Começando a ler o orçamento, salta logo à vista algo que já tinha pensado comentar há mais tempo. No meio de um texto sem significado e de pouco interesse, encontram-se referências a um dos maiores perigos económicos que se está a desenvolver actualmente, uma verdadeira bomba relógio:
Consequências do Aumento do Prémio de Risco Soberano para a Economia Portuguesa.
O aumento das taxas de juro da dívida pública portuguesa tem condicionado o risco de crédito e de liquidez dos bancos nacionais. Algumas razões podem ser apontadas como factores explicativos 1: (i) as perdas potenciais nas carteiras dos bancos, pelo facto de serem um dos principais investidores em dívida pública; (ii) o aumento do custo de financiamento que está, em parte, correlacionado com o custo de financiamento do Estado; (iii) a diminuição do valor do colateral e das garantias do Estado e (iv) a revisão do risco de crédito e do risco de mercado associada a actuação do Estado sobre a economia. A dificuldade de financiamento no mercado interbancário e de acesso aos mercados internacionais de dívida reflectiram-se no recurso ao financiamento junto do BCE por parte dos bancos nacionais.
O primeiro ponto para mim é o mais sério e de longe o de maior gravidade, mas é algo que ainda ninguém percebeu. Quando se fala que os nossos juros estão a aumentar e que o mercado internacional exige mais juro para dar crédito a Portugal, na realidade são poucos os bancos internacionais que dão algum crédito ao nosso país. Os últimos leilões de Dívida Pública Portuguesa, grande parte (se não a totalidade) foram comprados por bancos Portugueses. O que isto quer dizer é que somos financiados apenas pelo mercado interno. Mas perguntam: de onde vem o dinheiro dos bancos Portugueses? Vem do BCE! Os banco nacionais compram os títulos de Dívida Pública, vão com eles ao BCE, entregam como garantia e assim recebem mais dinheiro para utilizar no próximo leilão.
Para mim isto tem dois pontos fundamentais de extrema negatividade. Primeiro, os bancos estão a intoxicar-se com risco nacional, uma verdadeira concentração de risco que em caso negativo é explosivo. E o risco Português é mesmo muito grande! Em segundo lugar, continuam a fazer aquilo que é a base de todo este problema – Alavancagem Financeira (leverage)! Deste modo, em vez de reduzirem o seu leverage continuam a aumentá-lo, criando uma cada vez maior necessidade de financiamento.
E por culpa de quem é tudo isto? Dos políticos que deram ordens aos bancos para comprar a nossa dívida, dos gestores de carteira que apenas procuram rendimento, dos investidores que não são bem informados e não têm a real noção do risco que Portugal acarreta actualmente.
Por tudo isto, temos uma bomba na mão e se isto explode nem com o FMI cá se resolve.
O Estado tem que deixar de “obrigar” os bancos nacionais a comprarem a nossa dívida. E se no final do dia não se conseguir financiar (o mais provável), então o melhor mesmo será chamar o FMI.
Parabéns pelos artigos...
ResponderEliminarSão preciosos para quem tenta perceber alguma coisa, deste tsunami que nos está a afectar.
Cumprimentos
Mais uma vez excelente. Curto e conciso. Obrigado.
ResponderEliminarJM
"Por tudo isto, temos uma bomba na mão e se isto explode nem com o FMI cá se resolve"
ResponderEliminarEntão como é que se resolve? Uma guerrita civil??? Eu também sou crítico em relação ao estado actual das coisas, porque sinto-o no “bolso” como contribuinte honesto. Acho é que não devemos ser profetas da desgraça que é aquilo que o Sr. está a ser com essa afirmação! Apresente possíveis soluções para resolver os problemas e não profecias catastróficas, ou então diga que não sabe qual a solução para ter mais credibilidade a sua profecia.
Excelente Análise! Mais preocupado fico quando é público que as Administrações do Millenium BCP / Caixa Geral de Depósitos foram substituídas por via de indigitação do actual governo.
ResponderEliminarDurante a ditadura tivemos que tivemos 50 anos tivemos tudo menos liberdade de expressão.
ResponderEliminarEm 36 de democracia parece que temos liberdade de expressão menos tudo.
vamos lá a falar até encher a carteira... ou a barriga se a bomba rebentar.