segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Facilidade de Financiamentos do BCE

Vejo que muito se especula e muito se diz sobre os bancos Portugueses utilizarem o BCE para ir buscar dinheiro. Não é a primeira vez que abordo esta questão, já tenho aliás vários comentários sobre este assunto, mas vejo que ainda há muitas pessoas que não estão bem a par do mecanismo.
O primeiro ponto que quero deixar já bem claro é que este mecanismo sempre existiu, não se está a fazer nada de novo, simplesmente se facilitou mais o acesso à liquidez.
O BCE sempre efectuou leilões de dinheiro para os bancos com base em colaterais de dívida pública. Antes da crise, genericamente, caracterizavam-se assim:
- Prazos até 3 Meses.
- Colaterais (garantia) de dívida pública.
- Montante limitado.
- Taxa de juro em sistema de leilão.
Com esta crise, o que se alterou foi o seguinte:
- Estenderam-se os prazos até 1 ano.
- O colateral aceite não é somente dívida pública, são também títulos de bancos, empresas, ABS (Asset Backed Securities), etc., desde que correspondam a um conjunto de critérios definidos de risco.
- Montante ilimitado.
- Taxa de juro fixa (actualmente 1%).
Os colaterais têm um hair-cut, ou seja, uma percentagem do seu valor é retirado ao montante disponível de garantia, dependendo do risco. Caso prático: Tenho 1.000.000,00€ de Dívida Pública Portuguesa, o seu hair-cut é de 5%. Só posso pedir 950.000,00€ de empréstimo com esse título.
Estes são os mecanismos standards que os bancos utilizam para ir buscar dinheiro ao BCE. Existe também uma facilidade diária que pode ser utilizada para pedir um empréstimo overnight (de um dia para outro) a uma taxa mais penalizadora, que actualmente é de 1,75%.
Hoje – como no passado e como será no futuro – o BCE tem a “responsabilidade de garantir” liquidez aos bancos. Na minha opinião, Trichet (apesar da pressão alemã) continuará a “entregar” liquidez ao sistema.

3 comentários:

  1. No seu texto as palavras chave são quando diz ... antes da crise ..."

    Todos os bancos centrais garantem liquidez no sistema com mecanismos que visam corrigir pontualmente desiquilibrios indesejáveis.

    O que eles não podem é ser substitutos do mercado interbancário, sob pena de estarmos a distorcer de forma artificial a realidade.

    No caso dos bancos espanhóis e portugueses isso tem vindo a acontecer desde Abril deste ano por razões que todos conhecemos.

    Trichet está a adiar o inevitável, talvez porque saiba melhor que ninguém os custos de critérios de estrita racionalidade para a sobrevivência do sistema.

    E voltamos ao essencial. Nestas condições, a eurozona vai partir e o euro não vai sobreviver. Resta saber quantos bancos europeus vão ficar pelo caminho.

    Bancos franceses, holandeses, alemães. E não apenas portugueses, gregos, irlandeses e espanhóis.

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  2. Eh! Eh! Eh!

    Portaram-se mal.

    Este ano muita gente importante vai ter carvão no sapatinho ...

    E não é verdade que as canções de natal soam melhor em alemão?

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  3. Com BCE ou sem BCE, os banqueiros portugueses estão nervosos e a prova? Andam a falar muito.

    Salgado, Ulrich, Ricciardi ... parece que ninguém os cala.

    Em momentos de stress extremo, diz quem sabe, falar é aliviar o medo.

    E eles sabem que têm boas razões para ter medo.

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