Não poderia ser melhor. Qualquer ponto a mais de haircut é um sacrifício a menos que as pessoas vão ter que suportar. Quem pagará são os investidores da dívida, que perdem uma parte do seu dinheiro.
Mas atenção, não podemos olhar para isto como uma benesse. Nós somos os responsáveis pela dívida, temos é que ter vergonha pelo estado onde chegámos. E, acima de tudo, temos que demonstrar mais responsabilidade e vontade de dar a volta aos nossos problemas.
Não podemos olhar para esta situação como alguns olham, ao afirmarem que a culpa é dos nossos credores, não temos que lhes pagar nada, e ainda queremos sair da zona euro. Quem diz isso, não sabe o que diz, não sabe do que fala. Como alguém já disse, sair agora da zona euro é como voltar à Idade Média.
No final, teremos que procurar um compromisso para os sacrifícios a repartir entre os credores e a população e não esquecer que, após este evento, a nossa capacidade de ir ao mercado buscar dinheiro será impossível nos próximos 5 a 10 anos.
Esse será o tempo que teremos para fazer as reformas estruturais necessárias na nossa sociedade e na nossa economia, sempre com o apoio da União Europeia e do FMI, mas sobretudo com a nossa iniciativa e o nosso esforço.
As reformas vão ser complexas e terão consequências devastadoras no curto prazo. Vamos assistir ao aumento brutal do desemprego, às falências das empresas e das pessoas, ao incumprimento bancário. As pessoas vão ter menos dinheiro, através da redução dos salários e das prestações sociais. Não será fácil ter acesso ao crédito.
Ora, isto irá provocar uma queda no custo da mão-de-obra e no valor dos “assets” em geral em Portugal, ou seja, a deflação da nossa economia.