quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Intoxicação Interna II

Esta semana, ouvi o Dr. Carlos Costa Pina, Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, e o Professor Dr. João Cantiga Esteves defenderem uma maior facilidade de acesso, por parte dos privados, aos títulos de dívida pública portuguesa.
Assim, de repente, a proposta parece ser muito simples e aliciante mas nesta conjuntura poderia ter consequências devastadoras.
Em primeiro lugar, sabemos que as taxas elevadas que os títulos de dívida pública estão agora a pagar oferecem uma evidente vantagem sobre muitos depósitos bancários nas nossas instituições financeiras. Assim, iríamos ter um inevitável êxodo dos depósitos para os títulos de dívida pública com aumento do custo de financiamento dos bancos.
Ora, isso seria neste momento matar os bancos!
Em segundo lugar, será que as pessoas têm consciência do risco que estão a correr? É que, antes, já foram enganadas com os famosos produtos Capital Garantido, agora só faltava cairem no erro de pensar que os títulos de dívida pública são risk free.
Finalmente, nós não somos o Japão!
Quando aconteceu a grande crise japonesa, os investidores internacionais deixaram de querer estar expostos ao risco nesse país e venderam todas as suas posições que acabaram por ser compradas pelo mercado interno. Mas isso só foi possível devido aos grandes excedentes de capital detidos pelos japoneses e aos seus elevados índices de poupança.
Concluindo, nós não somos o Japão. Bem pelo contrário, estamos altamente endividados e ainda com muito pouca capacidade de poupança.
Por isso, acho que não devemos incentivar práticas de investimento que só levarão a que o Estado insista nas suas políticas erradas, connosco a sustentar este engano até que chegue o dia em que iremos todos pagar a factura.
Entendam que essa prática só irá contribuir para uma ainda maior concentração de risco de Portugal, em Portugal.

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