quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ganhar e perder no risco “Portugal”

Contínuando no tema de ontem, apresento-vos agora uma simulação de trade sobre o risco “Portugal”. Se acreditamos que Portugal, mais cedo ou mais tarde, vai ter que fazer um “haircut” na dívida podíamos apenas “shortar” um título, mas qual? E estaríamos expostos a uma posição “short” que acarretaria um “negative carry”.
Vamos estruturar então de uma forma diferente. Que tal “shortarmos” o novo título a 5 anos que tem uma cotação actual de cerca de 97% e comprássemos o título a 10 anos que cota actualmente por volta dos 82%? Ficamos neutros ao risco “Portugal” e o “negative carry” é quase anulado, dado que os cupões são quase iguais. Ficamos neutros ou quase neutros a muitos riscos excepto ao risco de “haircut”. Aí é que ganhamos dinheiro.
Então, vejamos. Em caso de “haircut” da dívida é estabelecido um valor de “corte” da remuneração de 20%, 30% ... logo se verá qual será. Esse valor será aplicado a todos os títulos de dívida e irão cotar todos perto do valor de 100% menos o “haircut”.
Vamos imaginar que o “haircut” será de 30%, significa que os títulos vão cotar perto dos 70%. No nosso trade simulado vamos ganhar 27% no título a cinco anos e vamos perder 12% no título a 10 anos. Isso vai gerar um resultado de 15%.
Independentemente do “haircut” o resultado será sempre o mesmo, tornando esta forma a mais eficiente de ganhar dinheiro com risco “Portugal”.
Tentei fazer uma explicação bastante simples ignorando uma série de “technicalities” neste tipo de operações que podem alterar numa pequena medida os resultados. Mas para mim o interessante era partilhar com os seguidores deste blog a base do trade e o seu racional, para perceberem o que os grandes bancos estrangeiros andam a fazer no mercado.

1 comentário:

  1. Viva,
    Gostava de ter a sua opinião sobre o risco de, como pequeno investidor, aplicar neste momento algumas poupanças na compra de dívida pública através do IGCP. Como Português, preocupa-me ver taxas tão elevadas

    http://www.igcp.pt/fotos/editor2/2011/CT_Taxa_de_Juro_Historico/03_11_Taxa_Juro_Anual_CT.pdf

    mas, mas ao mesmo, torna-se um investimento atractivo e, parece-me, até benéfico para o país. O que me escapa, dentro das limitações de conhecimento que tenho sobre a matéria, são quais os riscos a que ficamos expostos. O Estado pagará "garantidamente" às taxas anunciadas, a menos de algo como uma declaração oficial de falência do país? pode alterar/cancelar estes valores? que outros factores devemos ter em conta?

    Muito obrigado por qualquer esclarecimento.

    Um abraço,
    Miguel

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