terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Estocada Final...

Temos assistido, nas últimas semanas, à quebra de recordes sucessivos na alta dos juros da nossa dívida com maturidade a cinco anos. Já poucos falam dos outros prazos, parecendo que agora os cinco anos são a nova referência.
Mas o que é que se passa então com o valor da nossa dívida a 5 anos? Será que o mercado tem algum evento em especial que o preocupe nessa especial data? A resposta é não. Isto acontece devido à última emissão de 5 anos que Portugal fez no passado dia 7 de Fevereiro. Foi por muitos apelidada de um enorme sucesso, mas como eu já tinha alertado, o “sucesso” da emissão só se iria ver nos dias seguintes. E o resultado está agora à vista de todos. Vejamos o gráfico da evolução do preço da nova obrigação:
 

Apesar do IGCP só ter emitido 3,5 mil milhões de euros, e fez bem, os compradores dessa dívida não confiaram em Portugal e decidiram vender as suas posições, pressionando fortemente o preço em baixa.
Resumindo, os compradores da nossa dívida nessa emissão não compraram numa perspectiva de ”buy and hold”, ou seja, de investimento. Quem comprou foram os investidores especulativos que procuravam obter algum ganho de curto prazo, mas que, quando o papel começou a desvalorizar, decidiram vender a qualquer preço as suas posições. Os verdadeiros investidores, que compram dívida baseada na qualidade de crédito e que são investidores de médio ou longo prazo, não compram dívida portuguesa. Ora, isto também aconteceu à Grécia pouco tempo antes de ser resgatada.
Os gregos fizeram uma emissão que todos, até eu próprio, considerámos de sucesso, mas que para eles foi a estocada final. Nessa altura, os investidores compraram 8 mil milhões de dívida, mas logo que saíram notícias más, surgiu o pânico e desatou tudo a vender. Sem haver compradores, foi tudo para o charco.
Portanto, parece-me que isto é também o aproximar da estocada final em Portugal.
Depois desta emissão de “sucesso”, o Estado não terá facilidade em colocar mais dívida nos mercados e com a necessidade de financiamento para este ano bem alta, isto vai ser muito complicado...

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