Ficámos a saber que na semana que passou, foi batido o recorde dos últimos 20 meses do montante emprestado “overnight” (de um dia para o outro) pelo BCE à taxa de juro marginal (1,75%).
Esta facilidade de financiamento do BCE premite às instituições financeiras irem buscar dinheiro de “urgência” todos os dias num montante ilimitado, mas numa taxa mais penalizadora sobre a de referência.
Na quinta-feira, o BCE revelou que o montante acendeu aos 15.8 mil milhões de euros, valor esse que não era atingido desde Junho de 2009 e só mesmo comparável ao periodo pós Lehman Brothers em Outubro de 2010. Nas vinte e quatro horas seguintes, esse valor continuou muito alto atingindo os 14.7 mil milhões de euros, demonstrado a continuidade das necessidades por parte do banco ou dos bancos envolvidos.
É difícil explicar a razão destas necessidades o que alimenta a possibilidade de vários cenários.
A primeira hipótese, que está a ser avançada pelas fontes “oficiais”, refere um banco que, por alguma razão, não conseguiu ir à Facilidade Semanal do BCE . Falou-se mesmo que teria havido um erro de um “trader” que queria colocar 17,5 mil milhões na Facilidade Semanal mas que só colocou 1,75 mil milhões de euros. Ficando assim obrigado a ir ao mercado buscar o restante montante. Como não consegue fazê-lo, vai buscar diariamente o dinheiro que lhe falta na facilidade diária do BCE .
Realisticamente, como não assistimos a nenhum pânico no mercado devido a esta situação, tudo leva a crer que foi mesmo um erro que só será confirmado esta terça-feira, dia de mais uma Facilidade Semanal, onde o “trader” responsável poderá já ajustar a sua posição numa perspectiva semanal e não diária.
Caso contrário, vão sair reforçadas as preocupações de todos os que receiam uma situação aguda de “stress” no interior do sistema bancário europeu.
Outra hipótese que também foi avançada durante o fim-de-semana reside na necessidade que dois bancos Irlandeses, o Anglo Irish Bank e o Irish National Building Society, tiveram de financiamento e que só conseguiram colmatar indo buscar ao BCE à taxa marginal overnight.
A conclusão, para além de todos os cenários possíveis, é que o mercado monetário interbancário não voltou a ser o que era e parece-me que nunca mais voltará a ser.
Passaram quase 4 anos desde o ínicio da crise, em Agosto de 2007, e nada se normalizou. Os bancos europeus contínuam a estar dependentes do financiamento do BCE , que representa actualmente para muitos deles o único acesso ao dinheiro.
Sabemos todos que o BCE não quer contínuar esta política por mais tempo, mas não tem outra solução enquanto os bancos não limparem os seus balanços e passarem a ser transparentes nas suas contas.
Até isso acontecer, o BCE terá que continuar a assegurar a liquidez do sistema.
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