quarta-feira, 4 de maio de 2011

Contabilidade Criativa

Para quem não sabe, os bancos têm quatro maneiras de contabilizar todos os produtos de investimento que têm em carteira:
Activos Financeiros Disponíveis para Venda
Contabilizados ao valor de mercado com reavaliação diária dos preços a ser registada por contrapartida de Reservas (afecta o Capital Próprio)
Activos Financeiros Detidos para Negociação
Contabilizados ao valor de mercado com reavaliação diária dos preços a ser registada por contrapartida de Resultados (afecta o Resultado Líquido)
Activos Financeiros ao Justo Valor por contrapartida de resultados
Igual a “Activos Financeiros Detidos para Negociação” mas geralmente são aqui colocados os activos que têm derivados embutidos
Activos Financeiros Detidos até à Maturidade
Contabilizados ao preço amortizado (preço histórico a tender linearmente para o “par”) pelo que as variações de preço não afectam nem reservas nem capital.
E é nestes últimos que temos os grandes problemas. Nas carteiras de “Activos Financeiros Detidos até à Maturidade” os bancos têm de tudo. Desde títulos de dívida pública, produtos estruturados de crédito, etc.
Estes são activos que contabilisticamente podem ter um valor alto, perto do “par”, mas cujos valores de mercado podem reflectir perdas acima de 30%. Quer isto dizer que, recorrendo a esta contabilização, os activos dos bancos estão, em grande parte, sobrevalorizados. E assim se vão aguentando...
Só se contabilizam as perdas em títulos detidos até à maturidade quando é evidente a perda de capital, a chamada” imparidade”. Mas isso acaba sempre por ser uma discussão técnica com os auditores, dado que podemos ter perdas (elevadas) em previsão mas que ainda não entraram em “default”, ou seja, incumprimento.
Será interessante também ver os resultados dos próximos testes de stress, dado que ao contrário do que aconteceu em 2010, estas carteiras vão ser avaliadas nos testes deste ano.
A verdade é que se os bancos tivessem que fazer, neste momento, uma valorização de mercado, de todos os seus títulos detidos até à maturidade, chegaríamos à conclusão que todos eles estão na bancarrota.
É por isso que, quando vemos os bancos a apresentar resultados de milhões, tudo isso é fictício. São apenas resultados contabilísticos, que (muito) facilmente se conseguem redesenhar. Eu diria mesmo que, dadas as regras contabilísticas, um banco quase que consegue escolher os resultados que quer ter no final do ano…
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2 comentários:

  1. Pergunta:
    E quando um banco escolhe os resultados implica que escolhe os dividendos dos accionistas?

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  2. um banco também pode então quase escolher os dividendos dos seus accionistas?

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