terça-feira, 30 de novembro de 2010

Mais do que palavras…

Deixo-vos aqui um cartoon que representa muito bem estes últimos dias:


domingo, 28 de novembro de 2010

Dinheiro sem Trabalho

Não, não vou falar do Euromilhões de 45 milhões de Euros que foi para a Madeira. Já agora aproveito para felicitar os vencedores e dar-lhes apenas um conselho: usem o dinheiro com cabeça.
Vou aproveitar o momento de humor que andamos a viver aqui no blog, para passar uma reportagem que representa bem a nossa triste realidade.
Na sexta-feira passada, após mais uma publicação do meu comentário diário no blog fui ver um pouco de televisão. Estava a dar o programa “Lado B”, do Bruno Nogueira, na RTP1. Sinceramente, não tenho muita paciência para ouvir as entrevistas às pessoas que vão ao programa, mas admito que ele tem especial graça quando faz aquelas reportagens. Depois de mais uma semana negra, o humor faz esquecer tudo! Vamos então ver a reportagem, e peço-vos especial atenção ao elemento mais novo a ser entrevistado:
http://www.youtube.com/watch?v=BwG5rMDxuAw

Pois bem, palavaras para quê? Tirem as vossas conclusões! Para mim isto representa uma coisa: A política facilitista que emergiu nos últimos 15/20 anos em Portugal, onde as gerações mais novas estão embebidas no espírito de que o Estado garante tudo a todos, independentemente da responsabilidade individual do seu sucesso.

sábado, 27 de novembro de 2010

Olé Espanha

Esta semana foi marcada por muita turbulência nos mercados Europeus, tudo por culpa da Espanha. Continuamos na saga mata PIGS. O “G” e o “I” já foram, o “P” está a caminho, o grande problema está no “S”.
Em relação ao “P” – Portugal. Esta semana vamos ter mais um leilão de Bilhetes de Tesouro na quarta-feira. Este leilão pode ser decisivo na orientação do timing de entrada do FMI/EU em Portugal. Repito timing, pois a sua entrada já é um facto consumado no mercado. Relembro que, nem há 15 dias, tivemos o leilão do mesmo BT (1 ano) e que a taxa média foi de 4,81% e a taxa máxima foi de 4,95% para um total de 750 milhões de Euros de emissão, o que para mim representou um verdadeiro fracasso. Se correr pior (acima dos 5%) acho que pouco há a fazer senão chamar a malta do Fundo de Estabilização.
Mas esta semana foi tudo sobre o “S” – Espanha. Vamos então analisar uns dados relativos à necessidade de refinanciamento no próximo ano:

Pois bem, Espanha tem uma necessidade de refinanciamento em 2011 de mais de 150 mil milhões de Euros… Está, então, dividida na seguinte forma por meses:

Olhando para estes números, não sei mesmo como é que Espanha vai conseguir refinanciar-se, e a que níveis de juro. Claramente a União Europeia e especialmente os países que fazem parte da Zona Euro têm que avançar muito rapidamente para uma solução definitiva para esta crise.
No final da semana já ouvimos a Chanceler Merkel e o governador Weber, do Bundersbank, a mudar um pouco de discurso. Falaram em solidariedade entre os países da Zona Euro, referindo que o projecto de reestruturação de dívidas soberanas não deveria incluir as obrigações que já foram emitidas e que esse mesmo projecto só deveria ter início em 2013.
Claramente, o que vemos é um nervosismo dos políticos Europeus com a situação Espanhola. Na realidade, um problema com Espanha vai representar uma perda, talvez grande demais, para suportar. Penso que ninguém terá interesse nisso. Mas volto sempre à mesma questão: Quanto será necessário para socorrer Espanha? Para mim, o Fundo de Estabilização Europeu já não será suficiente e terá que se pensar num pacote maior e mais eficaz – Com mais solidariedade Europeia.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Para quem não sabe…

Em relação ao meu comentário de ontem, e para que não haja dúvida, aqui vai a notícia que podem encontrar no site da Rádio Renascença:


Comissão de trabalhadores e administração da AutoEuropa chegaram a acordo, apurou a Renascença.


Os trabalhadores da AutoEuropa vão ter um aumento salarial efectivo de 3,9%. A Comissão de Trabalhadores e a Administração da empresa chegaram a consenso para um acordo que vai vigorar até 30 de Setembro de 2012.

Em Dezembro, os trabalhadores vão receber prémios individuais que variam entre os 400 e os 500 euros.

No documento a empresa compromete-se ainda a não fazer despedimentos colectivos, até 31 de Dezembro de 2012 e integrar todos os trabalhadores em contratos temporários. O subsídio de transporte é aumentado em 5%.

Os plenários de esclarecimento vão ter lugar no próximo dia 2 de Novembro. No dia 4, este pré-acordo vai a votação entre os trabalhadores.

A informação foi confirmada à Renascença por António Chora, da comissão de trabalhadores, segundo o qual este cenário de aumento das condições de remuneração é possível por causa do bom desempenho da AutoEuropa.

“É possível porque nós vivemos num cenário alemão, num cenário de outros países da Europa para onde nós exportamos os nossos carros e que é mais positivo. Uma melhoria da situação económica dos trabalhadores, algumas melhorias sociais, isso é aquilo que destacamos como mais importante”, afirma António Chora.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ignorância Sindicalista

Ontem assistimos à primeira de muitas greves que iremos ter neste país nos próximos tempos. Será também a mais pacífica, dado que só tende a piorar. Maior o sacrifício das pessoas, maior é o seu desespero.
Eu vejo a greve como um direito e respeito esse acto. Posso concordar ou discordar com a forma e conteúdo das greves. Mas ontem houve um pormenor que me desagradou muito, que representa a inconsciência das pessoas, a manipulação dos sindicatos e dos conceitos de esquerda neste país: A greve na Autoeuropa.
A Autoeuropa é considerada uma empresa de referência em Portugal, não só devido ao trabalho com também à relação dos trabalhadores com a administração da empresa. Conseguiu, com o esforço de todos, manter-se em Portugal e até aumentar o volume de encomendas para os próximos anos. Os trabalhadores vão, por isso, ser compensados com um aumento de 3,9% do seu salário para o próximo ano, para além de muitos passarem a contratos de trabalho. E fazem greve?!
Não tenho palavras para descrever tamanha estupidez. Quando todos andamos a ver a nossa capacidade de compra a diminuir, quando o trabalho escasseia, quando a nossa economia entra em recessão, alguns (felizmente) conseguem ter mais benefícios nos salários, nos contratos de trabalho e ainda fazem greve?! Isto apenas demonstra a ignorância sindicalista que existe em Portugal.
Um dia choram porque a empresa vai fechar as portas e muda-se para outro país onde não se brinca com o trabalho…

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Realidade Bancária Portuguesa

Já falei acerca dos nossos bancos estarem insolventes. Hoje vou fazer a demonstração prática desse facto. Escolhi o BCP para esta demonstração mas quero deixar bem claro que a escolha foi totalmente aleatória e o que aqui vou demonstrar aplica-se a toda a realidade bancária Portuguesa.

Vamos então observar o balanço do Banco no final de 2009:



Antes de mais, quero alertar que a “fotografia” do final do ano é sempre a melhor!

Vamos então fazer uma simples análise do balanço:

O primeiro valor que salta à vista é o Shareholders Equity: O valor de capitais próprios que o banco tem. Esse valor, no final de 2009, é de 7,221 mil milhões de Euros contra os 95,550 mil milhões de Euros em Total Assets (Activos) – Isto é que é leverage! Estamos a falar de mais de 13 vezes os capitais próprios.

Segundo ponto, valor de crédito em carteira (Total Loans) que são 77,348 mil milhões de Euros, onde já consideram 2,157 mil milhões de Euros de cobrança duvidosa. Estamos a falar então de um total actual de créditos em carteira de 75,191 mil milhões de Euros, o que representa mais de 10 vezes os capitais próprios e 1,63 vezes os depósitos bancários (46,066 mil milhões de Euros). O restante suporte dos activos está dependente de acesso ao crédito por parte do banco; neste caso o total de crédito é de 42,264 mil milhões de Euros, sendo 18,488 mil milhões de Euros no curto prazo e 23,777 no longo prazo.

Agora vamos imaginar que 20% da carteira de crédito entra em incumprimento e que o nível de recuperação é de 50% (estou a ser simpático!): As perdas no banco serão cerca de 7,519 mil milhões de Euros.

Tudo isto não é maior que o capital social do banco?… O que isto quer dizer é simples: Insolvência! Podem dizer que ainda temos os depósitos. Mas os depósitos são do Banco? Não, são dos clientes…

Para acabar, o pior. Vejamos então o que eles chamam de Off-Bal Comm&Cont (Off Balance Commitments and Contingencies), que não são mais que posições que foram retiradas do balanço do Banco. E o que é que esta rubrica pode agregar? Garantias, Avales, compromissos irrevogáveis… Muita matéria onde pode existir (ou já existem) perdas. O valore que já temos nessa rubrica é já de 22,565 mil milhões de Euros…

Muitos são os que falam dos interesses dos Angolanos, Espanhóis, Chineses (que ainda não vi nada). Mas qual é o valor desses interesses? Pegando no caso do BCP, os Angolanos se tiverem 10% do Banco isso representa um investimento de menos de mil milhões de Euros. Por menos de mil milhões de Euros acham que eles estão dispostos a injectar mais 10 ou 20 mil milhões de Euros em caso de insolvência? Não. Então porque é que continuam com a sua posição? Primeiro, porque mil milhões de euros são trocos para eles e em segundo lugar manter uma posição no banco pode ser uma mais-valia num eventual desmembramento do banco.

Uma coisa é certa: Quando o FMI/EU entrarem em Portugal, pouco tempo depois os bancos portugueses vão ser Intervencionados/Nacionalizados. Disso já eu não tenho dúvidas nenhumas!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Primeiro Dia do Fim do Euro

Hoje pode ser o primeiro dia do fim do Euro. Passo a explicar: Todos vimos a Grécia e a Irlanda pedir ajuda ao FMI/EU e todos sabemos que, mais dia, menos dia, Portugal irá no mesmo caminho – já ninguém duvida disso. Agora o que me preocupa é o que vem a seguir: Espanha.
Se me perguntassem há uma semana se Espanha podia ter problemas, a minha resposta era não. Hoje, depois do movimento que assisti no mercado, acho que a minha resposta mudou para sim.
Vamos observar o gráfico do spread entre o juro da dívida Alemã Vs Espanhola a 5 anos:

Hoje, o spread bateu novos records. Observámos um aumento do juro da dívida Espanhola e uma queda do juro da dívida Alemã. O que isto significa, não é só uma fuga para a qualidade, é uma diferenciação de risco Alemanha Vs Espanha. Para o mercado, os riscos destes dois países diferem cada vez mais, não existindo uma solidariedade de dívida, apostando-se cada vez mais no desmembramento da zona Euro.
Hoje já ninguém quer risco da Grécia, Irlanda, Portugal e agora Espanha. Tudo e todos estão a vender o que podem.
Agora podem argumentar: isso já se passou com a Grécia e com a Irlanda e ainda se vai passar em Portugal, temos o Fundo de Estabilização Financeira para nos ajudar a todos. Pois bem, a grande diferença é o custo de socorrer Espanha. Ninguém sabe exactamente quanto será necessário, mas posso dizer que será mais que Grécia, Irlanda e Portugal juntos. Será que no final do dia temos dinheiro? O dinheiro na Europa começa a ser limitado. Estamos a falar de um pacote de ajuda para o Estado e Bancos entre os 350 mil milhões de Euros a 1 Trilião de Euros.
Não quero acreditar que tudo isto vai acontecer, mas sinceramente começo a ficar muito preocupado. Como alertei no meu comentário O Banco Central Europeu Segura os Mercados, Espanha tem uma enorme necessidade de refinanciamento para o ano, maior que Portugal. Se os mercados não estiverem estabilizados podemos ter aqui um verdadeiro problema na zona euro – com um fim inimaginável...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Terceiro Round

Agora que a Irlanda já oficializou a sua necessidade de ajuda do FMI/EU, caminhamos para o terceiro round do combate Mercados Financeiros Vs. Zona Euro. E quem é que se segue na lista dos Mercados? Portugal.
Aqui fica um pequeno comentário de um analista acerca de Portugal:
EU officials argue that Portugal does not have the same size of problems in the banking sector as Ireland. But, Portugal has different problems: low potential GDP growth, very high current account deficit, high private sector debts, high public deficit and debt. These probably make the country’s fiscal path unsustainable. And, as we have seen in the case of Ireland – which did not have a near-term funding need – rising funding costs can destabilise a country’s finances and force it to seek a bailout. Hence, unless Portugal is able to soon regain market confidence – which we doubt – high and rising funding costs may well trigger a vicious circle for Portugal pretty quickly, especially given the background debate over a PCRM (Permanent Crisis Resolution Mechanism).
Já estão a estudar muito bem o caso Português: os analistas já falam dos problemas aqui retratados como o fraco crescimento do PIB nos últimos anos; o alto nível de endividamento, não apenas no sector público mas também privado e a grande necessidade de refinanciamento no curto prazo – Está tudo dito, são os ingredientes que o mercado precisa para ir ao ataque!
Para concluir, deixo-vos aqui um mail que recebi hoje que reflecte bem a solidariedade europeia:
1. Spain is not Greece - Elena Salgado, Spanish Finance minister Feb 2010
2. Portugal is not Greece - the Economist, 22nd April 2010
3. Ireland is not in ``Greek Territory'' - Irish Finance Minister Brian Lenihan.
4. Greece is not Ireland - George Papaconstantinou, Greek Finance minister, 8th November 2010
5. Spain is neither Ireland nor Portugal - Elena Salgado, Spanish Finance minister, 16 November 2010
6. Neither Spain nor Portugal is Ireland - Angel Gurria, Secretary-general OECD, 18th Nov 2010

domingo, 21 de novembro de 2010

Regeneração Urbana

O Presidente da CIP – Confederação Industrial Portuguesa – apresentou há dias um projecto de Regeneração Urbana. Trata-se de um conjunto de medidas com incidência ao nível fiscal que visam impulsionar a reabilitação urbana e o mercado de arrendamento. Segundo António Saraiva: “O projecto Fazer Acontecer a Regeneração Urbana vai contribuir para dinamizar a economia e para aumentar a riqueza nacional: por cada emprego criado no sector da construção, geram-se mais dois empregos adicionais. Por outro lado, por cada euro que se investe em construção, gera-se um total de 2 euros e 19 cêntimos em actividade económica, directa e indirecta. Ou seja: há um efeito multiplicador do investimento em construção e imobiliário”
Com todo o respeito, que conversa da treta! Será que ainda não perceberam o que se está a passar? Larguem os lobbies e olhem à vossa volta! O mercado de construção e imobiliário está a sofrer e vai ter que continuar a sofrer. A lição que tiramos desta crise é que esse mercado não pode ser o motor da economia. Está muito dependente de crédito (leverage) e não traz valor à economia – Não cria bens transaccionáveis de fácil exportação!
E já agora vamos deixar de ser hipócritas: que emprego vai gerar? Mão-de-obra barata! E quem é mão-de-obra barata? Imigrantes. Será que ganhamos alguma coisa com isso…? Quem ganha são as grandes construtoras, que continuam a explorar as pessoas e continuam com obra para fazer, “montadas” no Estado para não variar!
Em relação aos efeitos multiplicadores que o Presidente da CIP apresenta, quer na criação de emprego quer na actividade económica, já não são reais. Acho que as pessoas ainda não perceberam que o acesso ao crédito vai ficar muito limitado nos próximos anos. Assim sendo, vai-se construir/reabilitar para quê? Para alugar. Pois bem, eu sou muito favorável ao aluguer de casas e acho que é um mercado que Portugal tem que apostar. Mas não de qualquer maneira. Qualquer reabilitação ou construção terá de ser de iniciativa privada, e não a contar com as habituais ajudas do Estado. Por outro lado, o Estado tem realmente obrigações na ajuda ao arrendamento, mas não financeiras, apenas legais. O Estado tem que agilizar as regras de arrendamento e tem que, acima de tudo, agilizar os processos de despejo por falta de pagamento. Quem é que vai investir em arrendamento quando sabe que se um inquilino não pagar vai perder, pelo menos, 1 ano em rendas?
Já temos um parque imobiliário excedentário, aumentá-lo ainda mais podia ser como atirar lenha para a fogueira. E se um dia os preços caiem vertiginosamente, os bancos ficam “agarrados”. Mas estou apenas a especular…
Concluindo, a mensagem que quero aqui deixar é simples: Há muito onde podemos investir, como sempre houve no passado, como haverá no futuro. Temos é que investir bem! Aprender com os erros é importante, para não voltar a cometê-los!   

sábado, 20 de novembro de 2010

Competitividade

Todos falam dos problemas estruturais de Portugal e a falta de competitividade é uma delas. Ora vejamos este gráfico:

Os ordenados em Portugal subiram, mas isso não reflectiu aumento de produtividade. Então como é que se aumentaram os salários? Resposta: Através de crédito. O dinheiro fácil permitiu aumentar salários sem ser correspondido na produtividade. O maior exemplo que temos é o Sector Estado.
Concluindo, ganhamos mais dinheiro no final do mês, fazendo menos que no passado. Passámos todos para ricos mas sem criar riqueza – Fenómeno da Ilusão do Crédito!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Imoralidade

Há tempos, o nosso Primeiro-Ministro considerou ser uma imoralidade o pagamento de um dividendo extra da Portugal Telecom aos accionistas este ano.
Antes de continuar, quero deixar bem claro que não sou accionista da PT, quer a nível pessoal quer profissional. Para mim, este assunto é economicamente irrelevante.
Pois bem, a imoralidade que o nosso Primeiro-Ministro tanto reclama é o não pagamento de um imposto que está definido apenas no orçamento de 2011. Ora se os dividendos forem distribuídos este ano, tal imposto não será pago. Na minha sincera opinião, o nervosismo do Governo está no facto de já estarem a calcular o retorno do dito imposto com base no pagamento do “expectável” dividendo. Chamar tudo isto de imoral é ser hipócrita e populista.
Para mim, imoral é o Estado andar todos os anos a alterar o regime fiscal. Imoral é o Estado andar sempre a ver onde consegue ir buscar mais impostos. Imoral é o Estado engordar à custa do emagrecimento do sector privado.
Há que ter em conta que os donos das empresas são os accionistas e os gestores dessas empresas têm que trabalhar para gerar resultado para dar aos accionistas (investidores). Mas eu compreendo o nosso Primeiro-Ministro: ele não está habituado, pois os gestores das empresas do Estado não trabalham para o accionista (Estado), trabalham para os amigos... para os amigos do Estado! E quem paga os resultados – Todos nós!
Apenas para concluir, qual é a empresa que quer investir num país onde o regime fiscal muda todos os anos? Qual é a empresa que sabe se gerar resultado, o Governo desse país vai arranjar forma de pôr a mão (via impostos) nesse dinheiro? Qual é a empresa que quer estar num país onde a carga fiscal, directa e indirecta, é das mais elevadas da Europa? Resposta: Nenhuma.  

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Nova Realidade

Muito tenho falado sobre a nossa realidade. Muitos podem concordar, muitos podem não concordar; a democarcia é assim. Já me chamaram “pessimista”, “profeta da desgraça”, “bota abaixo” mas isso pouco me importa. O que eu tento dizer é apenas a realidade.
Numa das minhas discussões e conversas sobre a situação do país ouvi, de uma pessoa com um percurso de vida bem maior que o meu e que eu muito respeito, um discurso muito interessante, que reflecte a verdade, mas que não sou capaz de o fazer.
O discurso baseava-se no facto de que Portugal sempre foi assim, durante estes últimos séculos. Havia sempre um período de prosperidade, de crescimento onde apenas aproveitávamos o “momento” e em que acabávamos sempre por não fazer as reformas estruturais necessárias. Quando se acabava o “momento”, tinhamos crises muito graves e duras, que acabavam por demorar anos a passar. Mas no final do dia, a História demonstra que ficávamos sempre melhor que há 20, 30 ou 40 anos antes, e que é assim que Portugal se desenvolve: lentamente mas sempre com grandes choques.
Eu concordo com todo este discuro. É verdade que estamos melhor que há 20 anos e, em princípio, devemos ficar ainda melhor depois deste choque que vamos levar.
Mas então porque é que não pratico este tipo de discurso? Porque, neste momento, as pessoas não têm consciência do que aí vem. E necessitam de ouvir um discurso realista, a alertar acerca dos tempos dificieis que se avizinham, para fomentar já poupança e reduzir o endividamento – para permitir à sociedade adaptar-se já à nova realidade.
E qual é a nova realidade? É a realidade onde deixou de haver facilidades. Não vai ser fácil comprar uma casa, não vai ser fácil comprar um carro, não vai ser fácil comprar eletrodomésticos, não vai ser fácil ter um emprego, não vai ser fácil comprar CDs, não vai ser fácil comprar comida...

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Efeito Bola de Neve

Hoje tivemos mais uma emissão de divida pública: Bilhetes do Tesouro a 1 ano com uma taxa média de 4.81%.

Continuamos na mesma estratégia: Endividarmo-nos no curto prazo a taxas baixas... Quero dizer, altas! Pois até no curto prazo já estamos a pagar caro!

Então vamos ver o resultado da estratégia do IGCP em termos de financiamento, vamos ver o montante total de vencimentos, por ano, de Bilhetes do Tesouro a partir de 2004:


Em 2010 temos um total de mais de 20 mil milhões de Euros, vencidos ou a vencer, de Bilhetes do Tesouro. Em 2011 temos neste momento mais de 16 mil milhões de Euros a maturar.
Com a necessidade de refinanciamento que nos espera para o ano e com a dificuldade de emitir Obrigações do Tesouro (prazos superiores a um ano), vamos ter que efectuar muitos leilões de Bilhetes do Tesouro - se conseguirmos...
Tudo isto significa que a barra no gráfico referente a 2011 tenderá a aumentar, bem acima dos valores registados em 2010, gerando um efeito “bola de neve”.

Na minha opinião, estamos a chegar ao fim da linha. Se já estamos a pagar estas taxas a 1 ano, estamos quase a pagar tanto quanto a Grécia paga de juro ao FMI\EU a 3 anos.
Será que vale a pena adiar mais?...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Era uma vez uma Reestruturação.

Andamos todos a falar de reestruturações e defaults mas ainda não falámos de números. Quanto custa uma reestruturação da dívida Irlandesa? Vamos, antes de mais, observar este gráfico:


Vamos agora calcular o valor total de dívida Irlandesa detida por estes quatro países e vamos imaginar uma reestruturação com um hair cut de 20% (e estou a ser simpático!):
Pois bem, agora vejam a consequência de uma reestruturação (hair-cut 20%) – Uma perda de 64.7 mil milhões de Euros – só nestes quatro países! Agora tirem as vossas conclusões...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Dominados e Dominantes

Sinceramente não percebo, acho que isto tudo vai de mal a pior. Agora a Alemanha quer pôr à força a Irlanda a recorrer ao fundo de estabilização financeira.
Realisticamente a Irlanda não necessita de dinheiro (com base em estimativas muito prudentes) até Abril do próximo ano. E não necessista mesmo, não é como a Grécia que andava dizer que não necessitava de dinheiro e todos nós sabiamos que eles já  não o tinham.
Então porquê recorrer ao fundo quando ainda se tem dinheiro? A justificação da Alemanha prende-se com o aumento dos juros da dívida da Irlanda que não param de subir e que, segundo Merkel, contagiam os restantes países da periferia. De facto, o juro sobe no mercado secundário, mas como a Irlanda não necessita de se financiar no mercado não anda a pagar esses juros. Acaba tudo por ser teórico.
Tentei obter respostas no mercado e a melhor resposta que obtive foi que a Irlanda iria, mais cedo ou mais tarde, necessitar de financiamento e que a sua situação actual não podia continuar por muito mais tempo. Desta forma “mata-se” a volatilidade e a incerteza.  
Eu, pessoalmente, não concordo muito na necessidade actual da Irlanda de aceder ao fundo; posso admitir que no próximo ano tal podia acontecer, mas isso dependeria muito do nível de perdas que iriam ter que assumir nos bancos e da sua evolução orçamental.
E os outros países da periferia estão a pagar cada vez mais juros na dívida pública por causa da Irlanda? Sra. Merkel, com todo o respeito, não me engane. Os juros da dívida estão a aumentar devido às suas magnificas propostas de reestruturação de dívidas soberanas.
A conclusão que tiro disto é muito simples: a Alemanha constrói um plano de reestruturação de dívidas soberanas. Depois “convida” os países a aceder ao fundo que leva à reestruturação da dívida, que mais não é que um expulsar de países da zona euro. Pois bem, tenho a certeza que a Sra. Merkel e os alemães não estão a ver as consequências de tudo isto. Basta ver o que aconteceu com o default da Lehman para fazer uma previsão...

domingo, 14 de novembro de 2010

Sectores de Actividade

Lá vão os tempos em que frequentei a escola preparatória. Muita coisa aprendi por lá, matérias que ainda hoje penso como é interessante, passados todos estes anos, comparar a teoria com a prática.
Hoje vamos voltar à escola. Vamos falar de Sectores de Actividade, que genericamente se dividem em três sectores:
Sector Primário – Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Pesca e Exploração de Matérias-Primas.
Sector Secundário – Indústria, Construção Civil e Fornecimento de gás, água e electricidade.
Sector Terciário – Comércio e Serviços.
Lembro-me muito bem desta matéria, da comparação de Portugal com os outros países ditos “desenvolvidos”. Portugal apresentava um peso muito grande no sector primário comparado com os países, onde o peso do sector terciário era maior. Nós estávamos atrasados em relação ao resto da Europa, era a conclusão.
A conclusão que se tirava fazia-me uma certa confusão, não percebia bem porque é que a agricultura não era “desejada” e os serviços é que demonstravam crescimento. Cheguei a fazer essa pergunta à minha professora, e a resposta foi uma coisa do género: “O objectivo não é acabar com a Agricultura, mas ela tem que ter um menor peso nas nossas actividades económicas. O sector terciário é o futuro e representam a modernidade”. Pois bem, a realidade acabou por demonstrar outra coisa.
Neste momento Portugal, para crescer, tem que apostar em bens transaccionáveis. Actualmente apenas cerca de 30% da nossa economia provém de bens que podemos vender internamente ou externamente! Isso é muito pouco.

sábado, 13 de novembro de 2010

Meias Mentiras

No final da semana, tivemos o prazer de ver, na televisão, uma entrevista com o Presidente do IGCP. Nessa entrevista a principal mensagem era a de que Portugal terá que renegociar 20 mil milhões de Euros em créditos para o ano.

Pois bem meus caros, o que ouvimos de Alberto Soares é uma meia mentira. Esse valor refere-se apenas às Obrigações do Tesouro. Então e os Bilhetes do Tesouro?

Para quem não sabe a diferença, Obrigações do Tesouro são títulos de dívida de médio e longo prazo (a partir de 1 ano). Bilhetes do Tesouro são títulos de dívida de curto prazo (até 1 ano). Mas ambos são dívida do Estado Português!

Neste momento – sem contar com mais uma emissão que se vai realizar na semana que vem – Portugal já tem um total de 20 mil milhões de Euros em Bilhetes de Tesouro que também vai ter que refinanciar em menos de 1 ano!

Pois bem, os nossos amigos do IGCP não contam a verdade! Os nossos amigos do IGCP não dizem que andaram a seguir a estratégia errada! Os nossos amigos do IGCP não dizem que financiaram tudo no curto prazo para ser mais barato e que agora temos um monte de dívida de curto prazo para refinanciar…

Portugal actualmente tem que refinanciar até ao final de 2011 40 mil milhões de Euros e ainda tem que buscar dinheiro para pagar o défice do ano que vem. Esta é a verdade!

E o barato vai sair bem caro, pois nesta semana o juro da dívida Portuguesa a 1 ano chegou aos 4%! Espero que só paguemos em juro, mas parece-me que vamos pagar ainda mais caro… com uma intervenção do FMI!

Todos falam da Irlanda. De facto, a Irlanda pode ter neste momento taxas de juro da dívida mais altas que as nossas, mas não necessita de ir ao mercado antes de Abril de 2011, logo não está a pagar esses juros! Fez o trabalho de casa e alongou no momento certo a maturidade do seu endividamento.

Concluindo, não podemos continuar assim! Não podemos continuar a ser governados e geridos por pessoas que simplesmente não dizem a verdade! Não assumem a sua responsabilidade! Não assumem os seus erros! Não há mal em errar (desde que não seja premeditado), mas há mal em mentir quando se erra!

Para saberem a verdade, vão ver o meu comentário “Dejà Vu”, sem mentiras, sem meias mentiras, sem meias verdades!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Inflação?

Esta semana tenho estado a acompanhar um movimento nas taxas de juro nos EUA muito interessante. Vejamos o gráfico:
Futuro Eurodollar Setembro 2011 – Libor USD 3 Meses em Setembro de 2011

Para quem não sabe como funcionam este tipo de futuros, a taxa é dada pela subtracção de 100 menos o valor do futuro, logo menor é valor maior é a taxa.
O que observamos no gráfico é que as expectativas de taxa de curto prazo (3 Meses) estão a começar a subir fortemente no segundo semestre de 2011. Isto tudo depois do QE. O mercado pode estar a dizer que lá para meio do próximo ano a inflação nos EUA pode passar a ser um problema.
Actualmente as taxas directoras do FED encontram-se entre 0% e 0.25%. O que o futuro está a indicar neste momento com a cotação a 99.335, é que em Setembro de 2011 já terá ocorrido pelo menos uma subida de taxas, sendo a implícita de 0.665%.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Plano de Reestruturação de Dívida Soberana

Nos últimos dias continuamos a ver o valor do juro da nossa dívida a subir. “Mas porquê?”, muitos perguntam. Já temos o orçamento aprovado, parece tudo perfeito...
A realidade é que o mercado continua muito nervoso e a razão de tudo isto é o “Mandato de Assassinato do Euro”[1]. Continuamos todos ao sabor da perspectiva de um plano de reestruturação da dívida nos países que têm dívida a mais.
Mas o aumento de juro da dívida baseado nestas notícias é interessante e dá para tirarmos já uma conclusão muito simples (para quem ainda não se convenceu): Portugal tem dívida a mais! É isso que o mercado está a dizer. Ele já não discute a questão do FMI ou não FMI, ele simplesmente está a dizer que se este plano for avante, Portugal estará na linha da frente para reestruturar a sua dívida.
Estamos no modo onde, das duas uma: ou existe uma solidariedade Europeia – Portugal “safa-se”; ou é deixado apenas com os fundamentais da sua economia – Default (reestruturação). Os mercados apenas estão a fazer o pricing das potenciais perdas de uma possível reestruturação.
Sobre este tema da reestruturação “controlada”, como já disse nos meus anteriores comentários, sou muito céptico. Acho que os políticos não estão a medir bem as consequências de uma medida desse tipo. Aliás, saiu ontem um estudo da Bruegel[2], muito credível, que já estabelece os guide lines do mecanismo de reestruturação Europeu.
Para mim, o que todos se estão a esquecer é dos bancos. Como será a “vida” deles num cenário de reestruturação da dívida pública? É que isso implicará obrigatoriamente uma reestruturação da dívida dos bancos também. Estamos, então, a falar de um default global da nossa economia.



[1] Ver Comentário – Assassinato do Euro - II
[2]http://www.bruegel.org/pdf-download/?pdf=fileadmin/files/admin/publications/blueprints/101109_BP_Debt_resolution_BP_clean_01.pdf

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Downgrade do Rating de Crédito dos EUA

Tenho a certeza que ao lerem o título pensam que, mais uma vez, lá estou ele a fazer futurologia! Pois bem, neste caso não é verdade, esta semana houve realmente um downgrade da dívida americana por uma agência de rating. Não viram nas notícias? Acredito, não foi muito divulgado. A agência responsável por tal proeza foi a Dagong Global Ratings Co. – Agência de Rating Chinesa.
O downgrade foi de um notch, passou de AA para A+ ficando ainda com negative outlook. Tal foi justificado com a deterioração da capacidade de pagamento do EUA. Os efeitos negativos da crise sobre a economia e o prolongar desta situação vão diminuir a sua capacidade de solvência. O QE de 600 mil milhões de USD avançado na semana passada pelo FED vai, na perspectiva da agência de Rating, desvalorizar o USD o que será contra os interesses dos seus credores, tendo sido também considerado mais um ponto negativo.
 Actualmente a China é a maior detentora de dívida Americana. Vamos ver o que isto vai dar...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Complexo de Esquerda

Desde o 25 de Abril que o nosso país sofre de um síndrome que nos anda a matar lentamente. É uma doença já conhecida mas poucos querem, ou têm coragem, de falar dela. É como se falar fosse agravar ainda mais o estado doente da nossa sociedade. A doença é o complexo de esquerda.
Falo disto com toda a frontalidade necessária, pois já muitos alertaram mas sempre num tom suave – não queriam acordar o bicho!
Em Portugal quem é empresário, quem é dono de uma empresa, de um pequeno ou grande negócio é ostracizado. “Capitalista!” – alguns chamam, “Andaste a roubar!” – dizem outros. Quando essas pessoas apenas trabalharam muito para chegar onde chegaram, muito trabalho e sacrifício tiveram que fazer. E se têm o que têm é porque o merecem! Não ficaram à espera do final do mês para receber o seu ordenado, não fizeram o apenas necessário, não se associaram ao espírito da procura de regalias e garantias no trabalho, não enveredaram pelo conformismo!
A sociedade continua a deixar na “sombra da vergonha” os empresários portugueses. Muitos e bons não aparecem na televisão, não falam do que têm ou do que não têm. E são esses quem tem mais valor. Começaram do nada ou de pouco, hoje criam postos de trabalho, fazem a nossa economia crescer, ajudam Portugal a desenvolver-se. E o que é que a sociedade lhes retribui?
Há quem diga que os empresários só pensam no interesse próprio. Pois bem, quem diz isso é hipócrita. Todos, em maior ou menor medida, pensamos nos nossos próprios interesses – é da natureza humana. Que eu saiba, os sindicatos quando falam também estão a pensar no seu próprio interesse!
A criação de empresas só traz benefício para todos, temos é que perceber que cada um tem o seu papel e que temos de nos respeitar mutuamente. A criação de empresas traz emprego, salários, crescimento económico, exportações, etc.
Compreendam uma coisa, como nos conta a História, as sociedades que sustentaram a sua economia nos ideais de Esquerda “morreram”. Quem sobreviveu, chama-lhe socialismo, sendo que isso mais não é que um Capitalismo “escondido” – China.
Deixemos de ser hipócritas, deixemos de ser complexados, não somos todos iguais, não temos que ser todos iguais. Cada um tem as suas próprias capacidades. Ao Estado compete dar as mesmas condições a todos no ponto de partida, a partir daí, cada um chega onde conseguir chegar!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Facilidade de Financiamentos do BCE

Vejo que muito se especula e muito se diz sobre os bancos Portugueses utilizarem o BCE para ir buscar dinheiro. Não é a primeira vez que abordo esta questão, já tenho aliás vários comentários sobre este assunto, mas vejo que ainda há muitas pessoas que não estão bem a par do mecanismo.
O primeiro ponto que quero deixar já bem claro é que este mecanismo sempre existiu, não se está a fazer nada de novo, simplesmente se facilitou mais o acesso à liquidez.
O BCE sempre efectuou leilões de dinheiro para os bancos com base em colaterais de dívida pública. Antes da crise, genericamente, caracterizavam-se assim:
- Prazos até 3 Meses.
- Colaterais (garantia) de dívida pública.
- Montante limitado.
- Taxa de juro em sistema de leilão.
Com esta crise, o que se alterou foi o seguinte:
- Estenderam-se os prazos até 1 ano.
- O colateral aceite não é somente dívida pública, são também títulos de bancos, empresas, ABS (Asset Backed Securities), etc., desde que correspondam a um conjunto de critérios definidos de risco.
- Montante ilimitado.
- Taxa de juro fixa (actualmente 1%).
Os colaterais têm um hair-cut, ou seja, uma percentagem do seu valor é retirado ao montante disponível de garantia, dependendo do risco. Caso prático: Tenho 1.000.000,00€ de Dívida Pública Portuguesa, o seu hair-cut é de 5%. Só posso pedir 950.000,00€ de empréstimo com esse título.
Estes são os mecanismos standards que os bancos utilizam para ir buscar dinheiro ao BCE. Existe também uma facilidade diária que pode ser utilizada para pedir um empréstimo overnight (de um dia para outro) a uma taxa mais penalizadora, que actualmente é de 1,75%.
Hoje – como no passado e como será no futuro – o BCE tem a “responsabilidade de garantir” liquidez aos bancos. Na minha opinião, Trichet (apesar da pressão alemã) continuará a “entregar” liquidez ao sistema.

domingo, 7 de novembro de 2010

Inundação de Dólares

A semana passada foi marcada por reuniões dos principais Bancos Centrais, de onde, em alguns casos, saíram decisões bastante importantes.
Hoje vamos falar da decisão tomada pelo FED.
O Banco Central Americano decidiu imprimir mais dinheiro, mais dólares, no valor total de 600 mil milhões de USD. Este movimento foi dentro do esperado pelo mercado, tendo sido o montante ligeiramente superior ao esperado (500 mil milhões). Para quem não tem muito conhecimento dos mercados financeiros, a injecção de dinheiro na economia é feita através de compra de activos (aos bancos) por parte do Banco Central, que entrega dinheiro “novo” aos respectivos vendedores. Os activos ficam no balanço do Banco Central, que consoante a sua estratégia futura, verá o que fazer deles.
Este segundo “round” de QE (Quantitive Easing) – em Português “Impressão de dinheiro” – foi muito pouco pacífico entre os investidores. Alguns acham que foi uma boa decisão, uma vez que o crescimento económico está a abrandar nos EUA, não se estão a criar postos de trabalho e a inflação está controlada. Desta forma, alguns investidores acreditam que podemos evitar uma “double dip recession”. Mas por outro lado há quem a critique. Consideram que este movimento é responsável pela “bolha” que temos nos mercados de Equity, que não representa a realidade da economia. Alegam também que a inflação está actualmente controlada, mas com este movimento o FED pode deixar de controlá-la. Defendem que mais que dinheiro, o que é necessário são reformas para apoiar a economia.
Realisticamente, o FED não tem o poder de legislar, de criar pacotes de ajuda à economia. Tem apenas os mecanismos monetários, e é com isso que ele está a jogar.
Na minha opinião, a inflação nos EUA está por agora controlada. O que o FED está a fazer é simples: desvalorizar a moeda. Ele sabe muito bem que o consumo interno não conseguirá ser o motor de arranque da economia dos EUA. Ele tem que apostar tudo nas exportações, e é isso que está a fazer.
Mas qual será o resultado desta política? O que acontecerá com tantos dólares no sistema financeiro? Quem ganhará esta guerra cambial? Será que alguém ganha? Será que a economia vai recuperar?... Eu não tenho respostas, tenho algumas ideias mas só o futuro nos dirá.

sábado, 6 de novembro de 2010

Culpa

Hoje os Portugueses estão com sede de culpados. Diariamente atiram as culpas de tudo o que nos está a conhecer aos outros, sem antes olharem friamente para dentro.
A culpa da crise é dos Bancos, a culpa é do BCE, a culpa é do Euro, a culpa é da Alemanha, a culpa é do PS, a culpa é do PSD, a culpa é do 25 de Abril, a culpa é de Salazar, a culpa é de D. Afonso Henriques! Todos têm um culpado!
Pois bem, para mim os culpados somos todos nós. Como já disse, a base da pirâmide do nosso problema actualmente é o crédito, e quem é que não tem crédito? Quem é que não tem a sua casa própria? Quem é que não tem um cartãozinho de crédito? Quem é que não fez aquela comprinha desnecessária? Quem é que não vai jantar fora quando tem comida em casa? Há vinte anos Portugal não era assim. O acesso ao crédito permitiu-nos muitas coisas, talvez hoje possa dizer, coisas a mais…
Agora vamos subir a pirâmide e aí encontramos os nossos políticos. São eles que têm o poder de definir “as regras do jogo”, são eles que nos conseguem limitar e definir como sociedade e é assim que a democracia está montada - e está correcta. Os políticos têm de agir, decidir, estruturar e gerir. Se as decisões foram as correctas só o futuro dirá. Não há um único caminho a seguir nas políticas, há vários, e os políticos têm e devem ter a capacidade de decidir. Se não gostamos, se não concordamos, se o resultado não for bom, a democracia dá-nos a oportunidade de os substituir.
Quem é que não tomou uma decisão errada? Eu já tomei “n”. Como eu sempre digo: “quem diz que nunca errou, é porque erra todos os dias. Quem não tem a capacidade de ver os erros, não tem capacidade de os corrigir”.
Mas atenção, existe uma grande diferença entre um juízo errado, e um erro premeditado. Neste último caso estamos a falar de corrupção:
Corrupção das decisões premeditadamente “erradas”, corrupção de pôr o interesse eleitoral à frente dos interesses do nosso País, corrupção para colocar “amigos” a trabalhar no Estado, corrupção para desviar fundos, corrupção nos concursos públicos, corrupção para calar os opositores, corrupção para nos esconder a verdade - corrupção com o nosso dinheiro! E é esse o problema dos nossos políticos de hoje! Mas somos nós que os escolhemos! Portanto, somos nós os culpados!
No topo da pirâmide fica a nossa cultura. Pois bem, foi ela que deixou que tudo isto acontecesse…

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Discurso da Verdade

Hoje, excepcionalmente, vou fazer uma coisa que nunca pensei fazer aqui nos meus comentários: vou dar voz a um político. Mas abro esta excepção porque acho necessário, acho relevante e até acho obrigatório para muitos de nós. O discurso que vamos ver e ouvir vem de quem alertou previamente acerca das consequências económicas que estamos a viver, de quem falou sem medo da realidade que viria, de quem fala ainda hoje a verdade!

Pois bem, podemos ser todos demagogos e dizermos (como eu ouvi) “Porque é que Portugal não vai buscar directamente o dinheiro ao BCE?”. Não é preciso ser muito esperto para saber a resposta: porque não! São as regras definidas para a zona Euro; boas ou más são as regras que temos. Não vou discutir se a zona Euro foi boa ou não para Portugal.
Podemos também fechar os olhos e dizer que está tudo bem, que estamos todos bem, ou que estamos mal mas também estão todos mal! Sobre esta demagogia respondo como o meu Pai sempre me ensinou: “filho, as notas dos outros não interessam, o que interessa são as tuas notas!”.
Por fim, temos o discurso da verdade. Pode ser duro, chato e até maçador mas é a Verdade. E é isso que temos de encarar, não podemos continuar a fugir dos problemas que temos pela frente. Temos que encará-los e fazer o necessário para o bem do país, não no curto prazo porque aí já nada há a fazer, mas sim no longo prazo!
Com toda a sinceridade vos digo, não concordo com algumas ideias sociais que a Dra. Manuela Ferreira Leite defende, mas claramente nos aspectos económicos e na coragem de dizer a Verdade, duvido que haja muitos como ela em Portugal.
Concluindo, tivemos num ponto do tempo onde isto podia ter doído um pouco, era uma simples operação com anestesia local. Hoje temos uma operação bem grande a fazer, largas horas no bloco operatório e nem temos a certeza se vamos sobreviver…

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Exemplo Grego

Hoje o governo grego apresentou medidas extra de corte da despesa para 2011 no valor total de 2 mil milhões de euros. Acho que devíamos aprender com quem está a aplicar (através do FMI) as medidas correctas:

1)      Corte de 500 milhões de euros em projectos de investimento do Estado.

2)      Os ministérios terão um corte adicional de 300 milhões de Euros.

3)      Municípios que apresentem um elevado valor de endividamento serão obrigados a reduzir despesas e serviços.

Todas estas seriam boas medidas para aplicar em Portugal, além de que são exequíveis – só não serão se os interesses instalados no Estado não deixarem…

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Mandato de Assassinato do Euro II

Na última reunião do Conselho Europeu sairam novidades relativamente à política económica comum; tivemos boas e más notícias. Sem ainda saber grandes promenores das medidas, já existem traços gerais do que vai ser estudado, ficando desde já garantida uma reformulação do Tratado de Lisboa.
Comecemos então pelas boas notícias: Parece que existe já um acordo na transformação do Fundo de Estabilização Financeira num Fundo permanente, deixando de ser limitado até 2013 como anteriormente definido. Esta medida é muito positiva, como eu já tinha alertado, os nossos problemas (e os dos outros) não se vão corrigir até 2013 e seria necessário prolongar a ajuda para se poder fazer os ajustes necessários.
A má notícia prende-se com a proposta de uma restruturação da dívida “controlada” nos países que apresentem incapacidade em manter os critérios definidos. Isso será como largar países como Portugal aos leões. Será uma verdadeira caixa de Pandora. O mercado da dívida tem estado sustentado na garantia implícita da União Europeia, sem isso a nossa bancarrota é quase imediata.
Mas então o que é que seria uma reestruturação da dívida? Neste momento, o que se tem falado seria, por exemplo, deixar de haver pagamentos de cupões de juro durante o período de “incumprimento”, poderia passar também por uma extensão na maturidade dos títulos, ou num pior caso, a aplicação de um hair-cut – não pagamento de uma percentagem da dívida. Todos esses casos implicariam perdas imediatas na valorização dos títulos, e no caso de um hair-cut seriam perdas permanentes.
Como é que os nossos credores iriam lidar com esta situação? Será que alguém voltava a emprestar-nos dinheiro? E a que níveis de juros? E os bancos locais (portugueses) que andaram (e andam) a comprar a nossa dívida teriam que assumir mais perdas? Quanto?
Pois bem, eu compreendo que quem vive acima das suas possibilidades tem que sofrer consequências dos seus actos. Não devem, nem podem, ser os contribuintes de outros países a pagar a factura, da mesma maneira que também não gostamos de andar a pagar a factura de BPN’s e de coisas afins.
Concluindo, por um lado abrir a caixa de Pandora da reestruturação de dívida vai ser muito negativo para os países periféricos, por outro lado não é justo que os outros contribuintes tenham de pagar as nossas irresponsabilidades.
Tenho muita dificuldade em acreditar em reestruturações de dívida “controladas”. Acho que arriscamos “matar” o projecto da moeda única. As consequências seriam devastadoras e acho que os políticos Europeus não estão a ver isso… Para eles deixo aqui uma simples mensagem: Parem de brincar com o tapete! Um dia põem-nos o tapete… no outro dia tiram-nos o tapete… Um dia o mercado já não vai acreditar mais no tapete e aí nem com um colchão!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Voltamos aos Fundamentais

Após uma negociação atribulada, digna de uma telenovela mexicana, finalmente temos acordo entre o PS e o PSD sobre o orçamento de Estado para 2011.

E como é que o mercado reagiu:

Taxa de Juro da Dívida Portuguesa a 3 Anos



Taxa de Juro da Dívida Portuguesa a 5 Anos


Taxa de Juro da Dívida Portuguesa a 10 Anos

Surpreendidos? Pois bem, eu não. Já tinha alertado que a aprovação do orçamento não ia fazer com que o juro da nossa dívida caísse. Quem apregoava isso eram os nossos políticos - os reis da dramatização - que faziam tudo para que acreditássemos que a aprovação do orçamento seria como a nossa salvação.

Nada se salvou, as nossas contas públicas continuam na mesma. Então como se explica o que ocorreu nos mercados? Simples: O mercado estava apenas focado com o evento de curto prazo - a aprovação do orçamento. À medida que as notícias saíam com vista à aprovação do orçamento, o mercado ia corrigindo. A excepção foi apenas nos dias em que as negociações foram interrompidas, conforme podemos ver no gráfico. Agora que tudo já passou o orçamento vai ser aprovado, o mercado volta a olhar para os fundamentais. E é isso que ele está a ver e é isso que ele está a fazer!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Falso Moralismo

Hoje em dia os principais jornais só falam da crise e de tudo o que a rodeia. Mas agora a palavra de ordem é “sangue”. Quando mostram (agora) todas as despesas supérfluas do Estado, dos municípios, dos organismos públicos, etc.… já vêm tarde! Mas acima de tudo vêm aproveitar o sentimento humano de revolta para terem mais vendas.
Não é que eu concorde com as despesas apresentadas, mas na realidade qual é o município que não faz uma festa uma vez por ano? Só naquele que o Presidente não quer ser reeleito!
Apresentam despesas de medalhas de mérito, mas se realmente tiveram mérito acho muito bem! Não precisam é de ser banhadas em ouro, uma verdadeira medalha reflecte o mérito e não o seu valor económico.
Todo o mal já foi feito, como o povo diz “não vale a pena chorar em leite derramado”, o que importa é o que se vai fazer agora para não se gastar demais.
Sobre o passado tenho pena que quando as vacas são gordas ninguém vê, mas quando tudo emagrece é uma caça às bruxas. Assim também não vamos lá, a disciplina é um acto contínuo, não um acto de ocasião.