domingo, 31 de outubro de 2010

Minha Querida Fotografia

Andas por aí a passear no blackberry de 2ª geração do Catroga, pobre coitada de ti, de mão em mão, de inimigo em inimigo… Ficavas bem melhor perto de mim. Guardava-te no meu gabinete como o primeiro de muitos orçamentos que é feito por mim mas imposto por outros. Este ano foi o PSD, para o ano quiçá o FMI. Pode ser também o meu último, que é tão importante como o meu primeiro. Esse sim, era um orçamento, depois de mandarem embora o Campos e Cunha eu tinha era autorização para gastar!
Eles não quiseram que os media nos tirassem uma fotografia, sendo tu a minha única recordação. Talvez ligue ao Sócrates, ele já conseguiu sabotar muita coisa, com sorte também sabe sabotar um Blackberry.

Sabes que o orçamento que mostras, não é o meu orçamento. Mas não é por causa disso que não te acho especial! O meu amor por ti já eu demonstrei ao não te aplicar nenhum imposto.
Depois de tudo isto ainda vou ter que resolver a minha missão impossível, ao vestir a pele do Tom Cruise em mais uma saga: Tenho que descobrir onde posso cortar 500 milhões de euros de despesas. Cá para nós, a verdade é que até tenho muito sítio por onde cortar, a missão impossível é mesmo convencer o nosso Primeiro-Ministro!
Um Beijo de Saudades,
Teixeira dos Santos

sábado, 30 de outubro de 2010

Dejà Vu

Estive a fazer uma actualização dos vencimentos e pagamentos de juros da dívida de Portugal para 2011. O resultado está reflectido no quadro abaixo:

Antes de tudo, devo avisar que nestes dados não estão incorporados os mil milhões de euros (expectáveis) que Portugal vai emitir no dia 3 de Novembro - 500 milhões a 3 meses e 500 milhões a 12 meses. Só com o resultado do leilão é que iremos saber o montante final da emissão.
Ao olhar para este gráfico, sinto que já vi isto em algum lugar... mas já não me lembro…
Bem, voltando à minha análise, a realidade é que Portugal tem de “arranjar” quase 30 mil milhões de euros para pagar aos seus credores no ano que vem. Significa também que temos já no próximo ano mais de 18% da nossa dívida a pagar, valor que tem vindo a subir, reflectindo a falta de capacidade de Portugal se financiar em prazos mais longos. Pior é que cerca de 25 mil milhões de euros vencem-se até Junho.
Todos sabemos a situação actual do sistema financeiro e, como já disse, o mercado não se vai abrir muito mais com o orçamento aprovado. As condições de financiamento de Portugal continuarão difíceis e caras!
Toda a dívida vai refinanciar-se no curto prazo, com juros altos, em cima dos bancos Portugueses, em cima do BCE! Até quando?
Ah! Já me lembro onde vi um gráfico parecido... era o da Grécia em 2010...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Evolução da Dívida Portuguesa

Muito ouço os nossos “fazedores de opiniões” falar na televisão, mas muitos falam sem saber, outros põem valores nas capas sem sentido, apenas com o objectivo de vender. Para vos apresentar a realidade, segue em baixo os gráficos da evolução da nossa dívida a 3, 5 e 10 anos a partir de 29 de Setembro, data de apresentação do orçamento. Tirem as vossas conclusões.




Não apresento aqui os gráficos comparativos do spread Portugal vs Alemanha, apesar de alguns usarem como referência de vez em quando, dado que é realmente uma medida do risco de Portugal mas em termos financeiros não reflecte o preço da nossa dívida.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Dão-me Crédito? – Versão Crédito Habitação

Na primeira versão do comentário Dão-me Crédito? ficámos a saber como é que os bancos estão (ou não) a resolver o seu problema de crédito mal parado de empresas.
Nesta versão vamos aprender como o crédito habitação não necessita de provisões, não estragando assim as estatísticas de incumprimento nem mesmo os belos resultados dos bancos.
Vejamos então o exemplo:
Eu, Joaquim Fernando, vou ao Banco Y. Peço um belo crédito habitação no valor de 250.000,00€ para comprar a casa dos meus sonhos que o Banco avaliou em 200.000,00€.
Passados uns anos (hoje), dada a terrível crise que estamos todos a passar com mais impostos a pagar e com o custo de vida mais caro, deixo de conseguir pagar as prestações da minha bela casa.
Sou contactado pelo banco que reparou que já não pago as minhas prestações há mais de dois meses e é agendada uma reunião.
Nessa reunião o banco procura saber a minha situação e oferece-se para me ajudar.
É-me, então, proposto um acordo de venda da minha casa ao Banco. O valor acordado da venda é a minha dívida actual mais os meus juros em dívida, mas tenho um acordo de recompra da casa ao mesmo preço daqui a cinco anos! Fantástico, pois até lá só pago uma pequena renda, bem mais barata que a prestação. Ainda dizem que os Bancos não ajudam as pesssoas!

Pois bem, os Bancos deixam de ter crédito mal parado, mas ficam com uma casa no balanço – nos seus activos. E se o preços das casas começar a cair... e se daqui a cinco anos o cliente não quer comprar a casa porque o valor de recompra é superior ao valor real da casa...
A realidade actual já nos mostra que os Bancos detêm muito imobiliário; pior será no futuro.
Acham que os preços das casas já caíram muito? Não, não caíram. Mas porquê? Os Bancos não querem (são donos de mais 50% do park imobiliário). Mas será que eles aguentam? Até quando...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Cegueira Colectiva

Não sei bem por onde começar, mas poucas palavras vou dizer porque corro o risco de me tornar repetitivo acerca de tudo o que disse, acerca de tudo o que a História portuguesa nos conta.

Apesar de não saber ainda o desfecho da aventura orçamental sei que, independentemente do resultado final, o espectáculo montado à volta da negociação é uma história triste. Aos meus olhos e aos olhos de quem nos rodeia.

Mas a verdade é simples e talvez óbvia: são os políticos que temos, ou melhor, são os políticos que escolhemos...

O que a nossa História nos conta sobre os bons governantes é bastante simples:

Existiu Salazar, mas esse foi-nos imposto à força.

Os que podíamos escolher, expulsá-mo-los pela força da verdade que traziam.

Os portugueses estão cegos pela mentira, mas quando a verdade vier ao de cima a visão será a dura realidade!

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Mandato de Assassinato do Euro

No passado dia 12 de Outubro, numa conferência em Nova York, Axel Weber membro do BCE e actual presidente do Bundesbank (Banco Central da Alemanha), mandou um “recado” para os mercados sobre a posição alemã relativamente ao programa de compras de Dívida Pública. Weber veio defender uma posição muito forte contra as compras de títulos de dívida por parte do BCE. Tendo chegado ao ponto de ter que vir Trichet desautorizá-lo publicamente.
Relembro que Weber é considerado como o provável sucessor de Trichet, que acaba o seu mandato daqui a cerca de um ano. O actual presidente do BCE pode tê-lo desautorizado, mas a realidade é que o BCE não efectuou nenhuma compra de títulos de dívida pública desde então…
A anteceder este comentário, assistimos a Alemanha negar qualquer hipótese de ser feito um prolongamento dos prazos do empréstimo concedido à Grécia, para além de 2013. Essa “sugestão” foi feita pelo FMI. A justificação prende-se com a boa execução das medidas implementadas naquele país, o que segundo o FMI é um procedimento normal nesses casos.
Com a intransigência vinda da Alemanha dá para fazer já um esboço do que pode acontecer em 2013. Todo o Mercado sabe que, em 2013, a Grécia não conseguirá pagar os 110 mil milhões de Euros. Como a União Europeia não quer ouvir falar de reestruturação da dívida, a única hipótese que resta ao FMI é mesmo prolongar o período de pagamento.
Se a Alemanha não permitir, então estará a emitir um mandato de assassinato do Euro.
Só para concluir, e também para interligar com o comentário de ontem, observemos os seguintes dados sobre a Grécia:

Realisticamente, o que se observa é que o efeito do corte de défice está a ter efeitos claros no crescimento do PIB e que o Rácio Dívida sobre PIB vai continuar a aumentar.

Pois bem, olhando para este último gráfico, está o retrato de tudo. Com todas as medidas tomadas, a dívida sobre o PIB só aumenta. Mas porquê? Vou explicar de uma forma simples: É como termos uma família onde o rendimento anual cai e o endividamento aumenta; pode aumentar menos que o passado, mas aumenta…
Para corrigir esta situação é preciso tempo, se não há tempo, o melhor então é reestruturar a dívida.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O que é o Défice?

Todos os dias entra pela nossa casa a dentro a palavra défice. Através da televisão, nos cafés e até nós próprios falamos sobre isso. Mas será que realmente sabemos o que isso é? E o que isso acarecta?
Pois bem, eu penso que deve haver muito boa gente que não sabe realmente do que se trata. Mas cá estou para explicar.
O défice é o saldo anual negativo, entre as receitas e as despesas, em percentagem do PIB.
A primeira conclusão que tiramos é que se temos défice significa que nos vamos ter que endividar mais para pagar esse diferencial. Significa então, vamos ter mais dívida.
Mas atenção, não há mal em ter défice. Aliás sempre tivemos, nós e os outros. O problema reside quando o défice é maior que o crescimento do PIB. Aí o nosso endividamento sobe em relação à nossa produtividade, e neste caso estamos a nos endividar sem obter resultados práticos.
Isto justifica a famosa regra dos limites de 3% de défice. A União Europeia baseou-se no crescimento médio do PIB expectável para aplicar essa regra. Desta forma, limita o endividamento sobre o PIB. Sei também que muitos contestam esta medida dizendo que não permite estimular a economia. Pois bem, basta olhar para o nosso caso para ver que não é bem assim. Nós andamos a estimular a economia com défice de 9,3% para termos um crescimento no ano seguinte de 1,1% (expectável) do PIB?! Isso só aumentou o nosso endividamento sobre a riqueza que produzimos!
O grande problema de Portugal foi ter défices, ao longo destes 15 anos, sempre superiores ao crescimento do PIB, e onde não soubemos aproveitar o leverage. E agora temos que pagar a factura...

domingo, 24 de outubro de 2010

A Base – Continuação

Agora que já todos conseguimos calcular o nosso leverage, vamos então perceber a dimensão do problema.

No orçamento verificámos que a dívida pública deve situar-se nos 82,1% no final do ano de 2010, que o endividamento das famílias Portuguesas no final do 1º Trimestre de 2010 situou-se nos 97% do PIB e que as empresas registaram em igual período um endividamento de cerca de 105% do PIB. Isto quer dizer que temos um endividamento total de cerca de 284,1%. Mas calma, ainda não acabei. Ainda falta o que já foi “desorçamentalizado”. Em 2010 estima-se que as empresas Públicas tenham um total de endividamento de 21,2 mil milhões de Euros, o que representa 12,3% do PIB.
Em relação às PPP (Parcerias Público Privadas), é muito complicado estimar os reais custos para o Estado no futuro, mas tenho estado a estudar muito bem este caso e planeio ter para breve uma análise mais desenvolvida. O Governo apresenta alguns dados no Orçamento mas estão muito pouco tratados e de pouca fiabilidade.
Somando tudo, nós Portugueses – no global (Estado e Privados) – temos um total de endividamento de cerca de 296,4% do PIB!
A primeira conclusão que tiramos deste número é que temos todos de trabalhar de borla quase três anos para pagar toda a nossa dívida! Mais, se considerarmos o nosso PIB de 173 mil milhões de Euros no final de 2010 (estimativa do governo), o total da nossa dívida é então de 512,8 mil milhões de Euros. Para perceberem a gravidade da situação, vou escrever com todos os algarismos: 512.800.000.000,00€!
Concluindo, todos temos crédito a mais e não temos capacidade para tanto! Todos os nossos balanços estão demasiado alavancados. Esse é o real problema que temos em mão: reduzir o nosso crédito! Mas como? O Estado assumiu responsabilidades muito grandes para o futuro, nós comprámos muita coisa a crédito que temos agora de pagar. Pois bem, é um trabalho difícil e a única solução já eu dei no meu comentário O Aviso. Mas sei que não é fácil, nem neste momento nem nos tempos mais próximos, poupar e pagar dívidas vai ser muito, muito difícil. Mas isso é que vai diferenciar quem tem leverage e quem tem muito leverage, quem vai conseguir pagar e quem vai entrar em default!

sábado, 23 de outubro de 2010

Já tenho o 12º Ano!

Nasci no dia 12 de Dezembro de 1977. Não me lembro de nada desse período, apenas me lembro da minha mãe dizer que eram tempos difíceis.
Lembro-me que jogava muito à bola no bairro, com os meus amigos Zé Manuel e Chiquinho. Sonhava um dia ser jogador da bola como o Chalana. Diziam que eu era um grande ponta-de-lança! Ainda fui fazer testes ao Benfica, mas infelizmente não fiquei…
Na escola era um verdadeiro “baldas”. Bem me lembro da minha professora Emília do 4º Ano dizer “Menino António, se continuas assim não vais longe na vida, nem o 12º Ano acabas!”. Pois bem, o meu percurso escolar realmente nunca foi muito famoso.
Chumbei no 6º Ano mas a culpa foi toda da Joana. Realmente bons tempos, chegávamos à escola e íamos logo namorar na barra. Eu bem lhe dizia que aquilo ia dar mau resultado. Chumbei por faltas, mas também se fosse fazer os testes, nem uma resposta sabia.
Nesse Verão, de castigo, a minha mãe mandou-me ir trabalhar para pagar a escola, como ela dizia. A Joana foi para um campo de férias e quando voltou mandou-me “dar uma volta”. É a vida…
Os anos seguintes foram o descalabro: muitas festas, muitas namoradas, muitos copos e charros. Mas lá ia-me safando, com uns chumbos pelo caminho mas nada como umas boas cábulas para me safar!
Finalmente cheguei ao 9º Ano já com 20 anos. Era o gajo mais velho da turma mas também o mais cool. Com muito esforço, lá acabei o ano. Bem, esforço não foi, uma vez que nesse ano foi só “copianço”!
No ano seguinte inscrevi-me num curso técnico-profissional para fazer o 12º Ano, queria ser electricista. Mas pouco tempo depois vi que a escola não era para mim, e já que não era obrigatório, fui mas é à minha vida.
Fui trabalhar para as obras, vida dura no princípio mas rapidamente me habituei. Ganhava-se pouco mas chegava para os copos. Das obras passei para uma loja de materiais de construção. Muitos trabalhos eu tive até que comecei a ver que trabalhar também não era para mim. Comecei a fazer as contas e se fosse para o desemprego era bem bom. Negociei com o meu patrão na altura, o grande Toni dos automóveis. Ele despedia-me e eu ia mas era para casa ver filmes e o Estado que me pagasse. Assim foi. Já agora um grande abraço Toni, sem ti nada disto seria possível!
Muitos filmes eu “papei”, grandes noites tive eu no café da Manuela. Que grande vida! Lá para o dia 14/15 lá tinha eu o cacau na conta, sem fazer nada!
Chamaram-me agora para fazer o 12º Ano. Disse logo que não ia! Mais três anos a estudar, não! Depois explicaram-me que não era bem assim, e que se não aceitasse perdia a “mama” do Estado.
Contrariado, lá fui eu.
Mas cá estou eu a contar a minha história de vida, espero que gostem.
O meu futuro espero que não seja muito diferente dos últimos tempos, há aí muitos filmes que ainda quero ver. Mas a malta diz que estamos em crise… Por mim podemos ter toda a crise que quiserem desde que não me tirem o meu subsídio! Ai Sócrates se mo tiras, não voto mais em ti!
Agora que por fim acabei a minha história de vida feita em 15 minutos pela minha irmã de 14 anos (eu ditei e ela escreveu! Era só para não ter erros dado que não sei escrever) já tenho o 12º Ano!
Toma Professora Emília, dizias que eu não ia ter o 12º Ano e agora já o tenho!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Valores não Financeiros

Hoje todos dizem que temos uma sociedade desenvolvida e livre.
Mas então quais são os valores da sociedade de hoje? A Liberdade?
 A Liberdade de mentir.
A Liberdade de ir trabalhar.
A Liberdade de haver justiça.
A Liberdade de ter um contrato de trabalho.
A Liberdade de maltratar os Pais
A Liberdade de aprender.
A Liberdade de agredir um professor.
A Liberdade de ter fé em Deus.
A Liberdade de ser preso.
A Liberdade de bater na autoridade.
A Liberdade de falar.
A Liberdade de matar.
A Liberdade de me poder endividar.
A Liberdade de me casar.
A Liberdade de abrir uma empresa.
A Liberdade de ir à guerra.
A Liberdade de ficar em casa a tomar conta dos filhos.
A Liberdade de fumar erva.
A Liberdade de receber um subsídio do Estado.
A Liberdade de fazer sexo.
A Liberdade de não ser julgado.
A Liberdade de despedir pessoas.
A Liberdade de ter advogado.
A Liberdade de aparecer na televisão.
A Liberdade de investir em activos de risco.
A Liberdade de amar.
A Liberdade de ir dormir.
A Liberdade de ter médico.
A Liberdade de torturar.
A Liberdade de corromper.
A Liberdade de fugir de casa.
A Liberdade de abrir falência.
A Liberdade de votar.
A Liberdade de não responder.
A Liberdade de querer morrer.

A Liberdade hoje justifica tudo…
Mas será que a Liberdade funciona numa sociedade onde não existe mais nenhum Valor?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dão-me Crédito?

Hoje em Portugal é mais fácil um devedor ter crédito que um bom pagador.
Se tiver uma situação financeira boa, cumpridor de todas as suas obrigações e tentar obter crédito, digo-lhe já que se vai meter numa aventura.
Se está aflito, não sabe onde ir buscar mais dinheiro, o melhor mesmo é ir ter com o seu banco e pedir a reestruturação da sua dívida. Será aprovada já amanhã!
Estranho? Nada. Simples de contar: os bancos hoje não têm mais capacidade para dar crédito, pois se ninguém lhes dá a eles, como é que eles vão dar aos outros? Não podem. Mas o crédito que eles têm já em carteira e pelo qual já assumiram o risco, terão de o manter. Mas até quando?
Pois bem, isso é o que ninguém sabe. A verdade é que a prática dos bancos hoje no crédito mal parado pode ser desastrosa.
O grande problema reside nas PMEs, onde os bancos têm grandes volumes de crédito, com poucas garantias associadas. Muitas das empresas estão falidas já com o fisco à perna. Mas os bancos continuam a reestruturar as suas dívidas, sabendo que nem uma prestação vão estas empresas voltar a pagar nos tempos mais próximos.
Mas Como e Porquê? Vamos a este caso prático:
Eu sou dono da empresa X e tenho um crédito de 1.000.000,00€ no Banco Z. A crise económica abateu-se sobre o meu negócio, as vendas têm vindo a cair fortemente, já despedi grande parte do pessoal e começo a não pagar as prestações do meu crédito.
Passados uns tempos sou contactado pelo Banco Z, que muito simpaticamente quer marcar uma reunião para resolver os meus problemas de crédito.
É-me proposto uma reestruturação da minha dívida. Primeiro pedem-me mais garantias, ao qual disse não ter mais nada para dar. Depois dizem-me que tinho já 10.000,00€ de juros em crédito vencido (dívidas com mais de 90 dias de atraso), mas que estavam disponíveis a dar-me um novo crédito de 1.010.000,00€ onde pagava já os 10.000,00€ de juros em dívida. Fiquei surpreendido, a empresa estava falida e estavam-me a aumentar o meu crédito. Ainda dizem que os bancos não ajudam os empresários!...

Para o banco, esta reestruturação foi fantástica: o cliente já não tem crédito vencido e não será necessário fazer provisões sobre o crédito (não será assumida a perda contabilisticamente). Ok, aumentou-se o montante em dívida e sabemos que o cliente não vai pagar as próximas prestações… mas não há problema, daqui a 90 dias reestruturamo-la outra vez!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A Solução

Muito tenho falado, desde o início do Blog, dos problemas, das complicações que podem advir desta situação. Enfim, do panorama geral do país visto desta “janela” chamada Mercados Financeiros.
Mas tudo é volátil. Eu próprio, em Maio, não acreditava que o FMI tivesse que intervir em Portugal. Acreditava que as medidas do PEC II seriam suficientes e que, acima de tudo, seriam executadas! Pois bem, os políticos conseguem sempre surpreender-nos… Mesmo estando num estado de pré-falência não foram capazes de fazer o mínimo no corte da despesa. Acabámos todos nesta situação.
E agora qual é a solução? Penso que todos já sabem bem a minha opinião, está estampada em todos os meus textos. Mas passo a explicar com mais exactidão:
1ª Fase - Pedir ao FMI uma primeira avaliação sobre a situação real do País
Esta fase terá que ter uma preparação prévia, dada a necessidade de ser muito rápida.
Realizar  uma avaliação das contas públicas e das medidas até então tomadas. 
Terá que se constituir uma task force com o objectivo de avaliar rapidamente não só a situação real dos bancos como também as potenciais perdas que possam ter que assumir no futuro com as medidas de austeridade que virão.
Determinar o montante necessário a pedir de empréstimo ao FMI/EU para conseguir reestruturar as finanças públicas e capitalizar os Bancos (os que necessitarem).
2ª Fase – Oficilização do Empréstimo
Receber o montante estipulado na 1ª Fase.
3ª Fase – Execução de medidas e reformas necessárias
Determinar as medidas de austeridade necessárias.
Congelar todos os projectos de grande investimento do Estado. Reavaliar todas as Parcerias Público Privadas. Emagrecer todo o quadro da função pública e as empresas Estatais.
Capitalizar os bancos
Reavaliar todas as prestações sociais e subsídio de desemprego.
Análise de todos os problemas da sociedade portuguesa e do meio económico.
Pôr em prática reformas fundamentais que têm sido susessivamente adiadas pelos governos.
Final
Existem três cenários que se desdobram em muitas outras fases. Determinar qual dos cenários irá ocorrer será, neste momento, pura futurologia.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A Base

Depois de tanto falar e dizer por aqui, falta mesmo é explicar a base do nosso problema. Não é nada complicado ou cientificamente inexplicável, bem pelo contrário, até é bastante simples. O nosso problema chama-se Leverage – Alavacagem Financeira.
É um mal que atravessa toda a sociedade, e são poucos os que não sofrem deste mal. Desde o Estado, Empresas, Bancos e Particulares. Até acho hilariante quando ouço comentários de pessoas a dizer que os Bancos e o Estado é que têm crédito a mais e que eles é que são os culpados de tudo. Pois se não fossem os bancos, muita gente não tinha comprado muita coisa bonita que tem lá por casa! E se o Estado andou a viver acima do crédito, pois bem, quem é que não andou?
Mas isso quererá dizer que também eu tenho leverage? Fiz aqui uma simples fórmula que nos permite calcular o seu leverage:








Leverage
=
Créditos




Poupança + Equity*









* Equity = Activos - Créditos









Caso lhe der um valor negativo considere-se insolvente. O ideal será situar-se entre 0 e 1, pois nesse caso é considerado sem leverage. A partir desse valor quanto maior, pior é a situação. Pois isso quer dizer que se está financeiramente alavancado e mais exposto ao crédito.
Então como é que pode diminuir a sua exposição ao crédito? Por duas formas fundamentais para as quais já alertei no comentário O Aviso: Através da amortização parcial ou total de créditos ou através da criação de poupança. Experimente fazer as contas e veja os resultados!
Mas tudo isto pode complicar-se se introduzirmos uma desvalorização dos activos que temos em balanço, pois a nossa alavancagem aumenta, não por via de crédito mas por perda em Equity. Este é um dos maiores riscos que temos na Banca. Se existir uma grande desvalorização dos activos em carteira (por exemplo, com as casas), os seus ratios de leverage aumentam. Isso levará a uma necessidade de aumento de capital ou à venda de activos com perdas potenciais.
Nota: Se quiserem receber um ficheiro em Excel para que possam calcular o vosso leverage mandem um e-mail para diariodofmiemportugal@gmail.com.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Intoxicação Interna

Começando a ler o orçamento, salta logo à vista algo que já tinha pensado comentar há mais tempo. No meio de um texto sem significado e de pouco interesse, encontram-se referências a um dos maiores perigos económicos que se está a desenvolver actualmente, uma verdadeira bomba relógio:

Consequências do Aumento do Prémio de Risco Soberano para a Economia Portuguesa.

O aumento das taxas de juro da dívida pública portuguesa tem condicionado o risco de crédito e de liquidez dos bancos nacionais. Algumas razões podem ser apontadas como factores explicativos 1: (i) as perdas potenciais nas carteiras dos bancos, pelo facto de serem um dos principais investidores em dívida pública; (ii) o aumento do custo de financiamento que está, em parte, correlacionado com o custo de financiamento do Estado; (iii) a diminuição do valor do colateral e das garantias do Estado e (iv) a revisão do risco de crédito e do risco de mercado associada a actuação do Estado sobre a economia. A dificuldade de financiamento no mercado interbancário e de acesso aos mercados internacionais de dívida reflectiram-se no recurso ao financiamento junto do BCE por parte dos bancos nacionais.

O primeiro ponto para mim é o mais sério e de longe o de maior gravidade, mas é algo que ainda ninguém percebeu. Quando se fala que os nossos juros estão a aumentar e que o mercado internacional exige mais juro para dar crédito a Portugal, na realidade são poucos os bancos internacionais que dão algum crédito ao nosso país. Os últimos leilões de Dívida Pública Portuguesa, grande parte (se não a totalidade) foram comprados por bancos Portugueses. O que isto quer dizer é que somos financiados apenas pelo mercado interno. Mas perguntam: de onde vem o dinheiro dos bancos Portugueses? Vem do BCE! Os banco nacionais compram os títulos de Dívida Pública, vão com eles ao BCE, entregam como garantia e assim recebem mais dinheiro para utilizar no próximo leilão.

Para mim isto tem dois pontos fundamentais de extrema negatividade. Primeiro, os bancos estão a intoxicar-se com risco nacional, uma verdadeira concentração de risco que em caso negativo é explosivo. E o risco Português é mesmo muito grande! Em segundo lugar, continuam a fazer aquilo que é a base de todo este problema – Alavancagem Financeira (leverage)! Deste modo, em vez de reduzirem o seu leverage continuam a aumentá-lo, criando uma cada vez maior necessidade de financiamento.

E por culpa de quem é tudo isto? Dos políticos que deram ordens aos bancos para comprar a nossa dívida, dos gestores de carteira que apenas procuram rendimento, dos investidores que não são bem informados e não têm a real noção do risco que Portugal acarreta actualmente.

Por tudo isto, temos uma bomba na mão e se isto explode nem com o FMI cá se resolve.

O Estado tem que deixar de “obrigar” os bancos nacionais a comprarem a nossa dívida. E se no final do dia não se conseguir financiar (o mais provável), então o melhor mesmo será chamar o FMI.

domingo, 17 de outubro de 2010

Era uma vez…

Um país onde o governo já não conseguia governar, onde os jogos políticos dominavam a governação, bem como a mentira. Um dia, tiveram a necessidade de passar um orçamento, mas como não tinham maioria, necessitavam do apoio da oposição. Como não sabiam negociar, utilizaram a chantagem, dizendo que vinha o papão se não houvesse orçamento.
A oposição, liderada por um partido que já não governava há algum tempo estava sedenta de poder. E via nisto tudo uma oportunidade para ganhar votos. Por um lado, sabia que mais tempo isto durasse mais votos iria ganhar. Por outro lado, tinham muito medo que o papão viesse, esse sim podia assustar a população e tirar muitos votos.
Um dia antes da votação do orçamento o líder da oposição pensou: “Este orçamento vai fazer muito mal ao nosso País, vamos todos ficar muito mal e não resolve os nossos problemas”. Mas por outro lado ele sabia que o papão podia aparecer e tirar votos ao seu partido nas eleições. Ele não conhecia bem o papão, ouvia dizer que assustava as populações e que já andava lá nas redondezas, mas que por outro lado podia ajudar o País a resolver os seus problemas.
Quando chegámos ao dia da votação do orçamento, o nervosismo pairava no ar. Ninguém sabia como é que o partido da oposição ia votar. Até que chegou ao momento. “Credo” diz o primeiro-ministro do governo quando vê quase toda a oposição a votar contra, ficando apenas 2 ou 3 deputados que não acarretaram a ordem do líder da oposição a votar contra. “O governo vai cair”, grita ele.
E assim foi, o governo caiu e o papão veio.
Foram tempos muito difíceis, a população viveu aterrorizada pelo papão que assustou muita gente. O governo teve que fugir para bem longe, e o líder da oposição também. A população culpou-o por tudo o que estava a acontecer.
Vieram novos governantes, eleitos pelo povo, mas sempre com o papão por lá.
Até que o tempo passou, e as pessoas começaram a ver que o papão assustava, mas estava a fazer bem àquele Pais. Muitos problemas resolveram-se e as pessoas começaram a viver melhor. Afinal, como o líder da oposição achava, o papão veio mesmo para resolver os problemas.
Hoje a população sabe que apesar de nunca ter sido primeiro-ministro, aquele líder da oposição fez mais por aquele povo, do que muito governos que por lá passaram. Além de que ele preferiu não subir ao poder, mas sim dar uma solução ao seu País. 
Como ele disse um dia, “Mais que político, mais que líder da oposição, sou um cidadão comum e o que eu quero é o melhor para todos”.
Fim

sábado, 16 de outubro de 2010

Orçamento de Estado 2011 – Resultado Final

Foi finalmente apresentado o orçamento de Estado para 2011. Com muitos atrasos que demonstram bem a incompetência dos nossos governantes actuais.
Tenho estado a ler e a analisar todo o documento, e ao longo dos próximos dias comentarei vários pontos que para mim parecem relevantes. Muito ouvimos dizer e irei tentar não repetir o que toda a gente sabe e ouve, mas sim aquilo que ninguém vê mas que é muito importante. Mas ficará para os próximos comentários.
Hoje o comentário será geral e simples mas começando pelo fim - o seu resultado final:
A execução deste orçamento não é real e não vai acontecer como previsto.
1)      Contamos com um crescimento das exportações acima de 7,2% para o PIB crescer, o que num cenário de “guerra cambial” onde a nossa moeda é a única que não “luta” para a sua desvalorização parece-me muito complicado. Sem falar na perda de competitividade que este orçamento vai provocar nas nossas empresas exportadoras.
2)      As expectativas de aumento da receita não vão acontecer, por dois motivos principais:
a.       Como disse, o valor de referência para o PIB 2011 não se vai realizar.
b.      No comentário de dia 29 de Setembro disse que chegámos a um ponto de indiferença nos impostos. O aumento de imposto não vai reflectir um aumento de receita. Esse aumento vai ser perdido na queda no consumo, na perda de competitividade, nas falências empresariais e pessoais e na economia paralela.  
3)      Mais uma vez o corte nas despesas é muito reduzido, e em grande parte muito abstracto. O que vai representar no final do dia pouca ou nenhuma poupança (como no PEC II).
Concluindo, como aconteceu no passado o “papel” até é bonito, cheio de ideias muito giras. Mas no final do dia, a sua execução será irreal e mal feita, e por isso só temos que ter paciência e esperar até ao dia que o FMI entre cá…

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Socialismo – A realidade Utópica

Hoje não irei comentar nada sobre a nossa vida económica, política ou social. Pelo contrário, apenas vou apresentar um texto datado de 1931, escrito por um Professor americano.
Muitos já podem conhecer o texto, mas acho que continua mais actual que nunca, especialmente no contexto que vivemos:
Um professor de economia na universidade Texas Tech disse que nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez, reprovado uma classe inteira.
Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e 'justo. '
O professor então disse:
Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas. Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe, e portanto seriam 'justas.
Com isso ele quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém seria reprovado. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia um "A"...
Depois que a média das primeiras provas foram tiradas, todos receberam "B". Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.
Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma. Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que eles também se aproveitariam do trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra suas tendências, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. Como um resultado, a segunda média das provas foi "D". Ninguém gostou.
Depois da terceira prova, a média geral foi um "F". As notas não voltaram a patamares mais altos mas as desavenças entre os alunos, buscas por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela classe. A busca por 'justiça' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No final das contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar o resto da sala. Portanto, todos os alunos repetiram o ano... Para total surpresa!
O professor explicou que o experimento socialista tinha falhado porque foi baseado no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual o experimento tinha começado.
"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem seu consentimento para dar a outros que não batalharam por elas, então o fracasso é inevitável."
É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade. Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber. O governo não pode dar a alguém aquilo que não tira de outro alguém. Quando metade da população entende a ideia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.

É impossível multiplicar riqueza dividindo-a. " Adrian Rogers, 1931

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Orçamento de Estado 2011

Nestes dias a discusão política está apenas concentrada na aprovação do orçamento de Estado para 2011. As posições já tiveram bem mais extremadas, contudo temos agora discursos mais moderados.
O Ministro das Finanças tenta pressionar o PSD para dizer já que vai viabilizar o orçamento. Usando como justificação a crescente pressão dos mercados sobre a nossa dívida. Realisticamente nas últimas semanas o custo da dívida tem estado a cair... contrariando o que diz Teixeira dos Santos. Vejamos o gráfico:


Usámos como referência os 5 anos com a Obrigação com maturidade 10/15. Vemos que desde 29 de Setembro o custo de financiamento de Portugal a 5 anos passou de 5.80% para abaixo dos 5%.
O PSD por seu lado, não diz o seu sentido de voto sem conhecer realmente o orçamento de estado. Existem pressões internas para não aprovar o documento, mas não passará disso. O discurso de Passos Coelho para quem quer entender vai no sentido de viabilizar o orçamento. Mas só à última é que o vai dizer. Deverá ser com a abstenção,  se se mantiver as linhas gerais já apresentadas.
Independetemente disso para os Mercados o que mais importa é o orçamento. As linhas gerais já apresentadas representam os “serviços minímos” necessários. Agora o Mercado quer o orçamento aprovado. Mas mais tarde ou mais cedo, com FMI ou ainda sem FMI, mais se vai ter que fazer.
Mas atenção, a sua aprovação não irá representar uma queda acentuada no custro da nossa dívida, mas sim a sua execução... Foi isso que realmente faltou ao PEC II, e talvez seja por isso que hoje estamos como estamos. Temos que voltar a ser credíveis, o Mercado não quer só medidas, quer acções!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Organização para a Cooperação da Desgraça Europeia - II

Esta semana saiu mais um brilhante comentário no FT dos nossos amigos da OCDE, desta vez do Sr. Hans Blommestein, Head of bond market and public debt management.
“The psychology of the markets is very negative and not necessarily based on facts, but rather on animal instincts and spirits that trigger far greater selling in bond markets than is often justified by the data.”
Como trader de obrigações posso falar por experiência própria. O meu sentimento negativo é mesmo baseado em factos, que os demonstro nestes comentários diários. Só o futuro dar-me-á razão. Agora à questão dos instintos animais e espirituais é quase insultuoso senão ridícula, triste demais para ser verdade.
Se o mercado reflecte um volume maior de vendas (ou compras) baseado em dados só tem uma razão: existe um grande nervosismo dos mercados sobre esses activos dada a situação real dos factos. Ninguém anda armado em “violador” de mercados ou a ouvir vozes de espíritos! Eu pelo menos nunca ouvi!
Isto só demonstra que há pessoas que têm algum peso no poder de decisão que não estão a ver o filme. Estão em constante negação. E é na mão dessa gente que estamos todos nós…

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Barrigas de Aluguer

Saíram os dados relativamente às necessidades de financiamento dos bancos Portugueses junto do BCE. Como já alguns noticiaram, houve uma queda de mais de 19%. Em Agosto o valor situava-se nos 49.1 mil milhões de euros, caindo para os 39.7 mil milhões de euros em Setembro. Isto é bom, não é? Parece que os bancos estão com menos necessidade de financiamento ou será que o mercado interbancário abriu-se novamente para as instituições financeiras Portuguesas?...
Agora vamos falar verdade:
Obviamente os bancos continuam com a necessidade de se financiar, não venderam 10 mil milhões de euros de activos num mês e os mercados continuam fechados para os bancos.
Simplesmente alteraram a sua base de financiamento, dada a pressão política que existia para não recorrer tanto ao BCE.
Mas então onde é que os bancos vão buscar o dinheiro? Os bancos estão a começar a utilizar um mecanismo que foi utilizado em 2008 quando os bancos americanos tiveram que assumir grandes perdas e necessitaram de esvaziar os seus balanços. Foi criado o esquema de “barrigas de aluguer” de activos financeiros. É em muito semelhante à operação que é realizada com o BCE mas neste caso a contraparte é um banco com maior capacidade de balanço. O juro tendencialmente será maior ou até mesmo estruturado, os prazos são mais longos e não se está dependente dos leilões do BCE.
Vejamos a estrutura:
Os benefícios são poucos comparativamente com o BCE, pode-se estruturar o custo de financiamento que se correr bem pode poupar algum juro. Mas acima de tudo retira-se o estigma de ir ao BCE.

Outras soluções ainda mais exóticas passam pela venda de opções sobre títulos. Dado que a volatilidade está alta, o prémio pago à cabeça (upfront) é maior. Dessa forma o banco encaixa dinheiro no momento inicial, ficando apenas exposto à estratégia call ou put (subida ou descida) do preço dos títulos e à volatilidade. Se a estratégia não estiver a correr bem, faz-se o rollover para mais um período.
Concluindo, independentemente das estratégias e da engenheira financeira, a realidade é que os bancos não têm funding e estão apenas a adiar o que realmente é necessário – deleverage dos seus balanços! Vender activos e assumir perdas!
Estão a rolar a situação dia-a-dia, à espera de um melhor dia… e se ele nunca vier? …